Cobertura da grande imprensa

Capítulo 8

Cobertura da imprensa

pra você que tá sem tempo...

A maior parte dos entrevistados acredita que houve aumento e melhoria da cobertura na última década e que os povos indígenas se tornaram mais visíveis à grande imprensa no Brasil de Bolsonaro. “O presidente colocou a pauta ambiental e indígena no centro do debate político do Brasil.”

Uma parcela dos entrevistados defendeu que o aumento da cobertura também foi resultado de mudanças comportamentais, como o enfrentamento ao racismo, a agenda de representatividade e diversidade, a profusão de conteúdos na internet e nas redes sociais. “Além do texto, você tem uma espécie de extratexto, seja nos comentários, nas redes sociais e nos próprios portais, que vão produzir um novo texto, digamos assim, em todos os sentidos. E ninguém quer ficar levando porrada.”

O Jornal Nacional e o Fantástico foram os programas jornalísticos mais citados como exemplos dessa maior abertura às pautas indígenas. “A pauta socioambiental encontrou, em alguma medida, sensibilidade até na Globo.” Também da Rede Globo, o programa Falas da Terra foi descrito como um marco da TV brasileira. “Fiquei impressionada, tem uma força inédita.”

Em geral, os elogios dos públicos engajados/interessados foram, quase que em sua totalidade, dirigidos a jornalistas e programas e não a veículos de comunicação. André Trigueiro, Rubens Valente e Eliane Brum foram os jornalistas mais citados pela excelência, relevância e alcance de seus trabalhos.

A emergência de veículos independentes como Repórter Brasil, Agência Pública, InfoAmazonia e Amazônia Real foi considerada uma importante mudança na cena midiática do Brasil.

Entre os públicos engajados, apenas um número muito reduzido de pessoas fez menção explícita à cobertura pró-Bolsonaro de veículos de comunicação como a Rede Bandeirantes, que chegaram a dizer que os indígenas poderiam ”tomar até o Morumbi” caso a tese do marco temporal não fosse aprovada, segundo reportagem do The Intercept.

A explosão do desmatamento na Amazônia foi a principal pauta dos últimos anos, na imprensa nacional e internacional. Alguns entrevistados acreditam, porém, que faltam informações mais aprofundadas sobre as causas do desmatamento, assim como ouvir as populações locais mais afetadas.

Para diversos entrevistados, o incremento da cobertura sobre os povos indígenas é considerado “insuficiente” e “insatisfatório” diante das omissões e distorções históricas e da diversidade de povos e realidades em todo o país, não apenas na Amazônia.“São 9,5 minutos para o poder hegemônico e 55 segundos de ‘concessão’ para o campo que defende o planeta, que luta por direitos etc. Brincadeira, né?”

Diversas pessoas destacaram a necessidade de que seja dada mais visibilidade aos povos de outros biomas brasileiros, aos que vivem não apenas nos territórios, ao trânsito cidades-aldeias e, aos que estão nas cidades. “Quando se fala de índios, a maior parte da população pensa nos índios do Xingu, no Quarup. A mídia mostra sempre as mesmas comunidades, e as pessoas acham que é tudo igual.”

A falta de cobertura qualificada e consistente sobre os direitos territoriais dos povos indígenas foi frequentemente problematizada, questão que ganhou mais visibilidade pública durante o julgamento da tese do marco temporal pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Além disso, alguns entrevistados mencionaram sentir falta de reportagens sobre o cotidiano dos povos indígenas em seus territórios, sobre as questões que permeiam suas vidas no presente e sobre seus modos de vida, saberes, culturas e cosmologias, sem exotismos. "As pessoas se casam, as pessoas morrem, as pessoas amam, enfim, as pessoas vivem.”

Outras críticas frequentes à cobertura da imprensa foram a generalização, o uso de termos inadequados e o fato de jornalistas ainda ouvirem cientistas, e não os indígenas, como especialistas.

A crise financeira da imprensa foi descrita como uma limitação para a produção de reportagens investigativas e ao redor do Brasil, restringindo o que sabemos sobre o país à agenda política em Brasília.

Parte do público engajado/interessado acha que os indígenas deveriam ocupar, entre outras telas, também as da grande imprensa. “Bom mesmo seria se comunicação fosse um direito, assim como saúde e educação.”

“Precisamos encantar. Acho que muitas vezes essa cobertura desencanta, ela é contaminada, dominada pelo opressor. Claro, é necessária a denúncia, mas a gente tem que mostrar essa beleza, que é absurda, de conhecimento, de línguas, de saberes.”

Entre os formadores de opinião dos públicos não engajados e população geral, muito pouco do que sabem sobre o assunto é baseado na cobertura da grande imprensa. Os veículos mais mencionados foram Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, CNN, GloboNews, Jornal Nacional e Jornal da Record. Com exceção dos jornalistas regionais, as concepções sobre os povos indígenas parecem ser formadas a partir de fragmentos de informação, às vezes, apenas títulos de reportagens ou de publicações em redes sociais.

Plataformas como G1, UOL e Terra estiveram entre os veículos que se destacaram no acúmulo de engajamento no Facebook na última década, segundo o levantamento da DAPP/FGV.

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“Essa é a maior pauta brasileira, é o grande assunto. Mesmo que a pessoa não saiba nada sobre a questão indígena, se ela souber que há mais de 300 grupos humanos dentro do país tentando sobreviver há mais de 500 anos, vai entender, imediatamente, que está tratando de algo extraordinário."
(Jornalista)

A pesquisa buscou identificar a opinião dos públicos engajados/interessados sobre a cobertura da grande imprensa no Brasil a respeito de povos indígenas e de comunidades tradicionais e as principais fontes de informação de formadores de opinião não engajados e da população geral.

Os últimos 10 anos foram fortemente marcados pela consolidação da internet como principal fonte de informação, pelo agravamento da crise financeira e de representatividade da grande imprensa, pelo fenômeno da desinformação e fake news e pelo crescimento e fortalecimento do jornalismo investigativo independente no Brasil. Apesar disso, a mídia tradicional, especialmente os canais de televisão, ainda tem enorme relevância e inigualável alcance, poder e influência no país.

Uma pesquisa realizada pelo PoderData, em outubro de 2021, mostra que a televisão ainda é um dos meios mais usados por brasileiros em busca de informação (40%), ficando atrás apenas da internet (43%), que soma sites e portais (21%) e as redes sociais (22%), onde também circulam amplamente conteúdos produzidos pela mídia tradicional.

Crédito: Poder 360

Muitos foram os adjetivos pouco elogiosos entre os públicos engajados/interessados para descrever a cobertura da grande imprensa sobre povos indígenas no Brasil. “Tímida”, “frouxa”, “irregular”, “ausente”, “trágica”, “esparsa”, “problemática”, “pobre”, “preconceituosa”, “ignorante”, “alienada”, “tateante”, “reativa”, “paternalista”, “colonialista”.

Ainda assim, a maior parte dos entrevistados acredita que houve aumento e melhoria na última década e que os povos indígenas e comunidades tradicionais se tornaram mais visíveis para a grande imprensa no Brasil de Bolsonaro.

“A imprensa no Brasil é super oficialista. Então, quando você tem um governo como o do Bolsonaro, que quer matar todos os índios, pavimentar a Amazônia e destruir tudo, a imprensa começa a prestar atenção no assunto. Acho que o interesse por parte da imprensa deriva do fato de que isso é uma coisa importante para o governo e acabou virando uma agenda. Todo dia tem um ataque, uma medida provisória, um projeto de lei, um desmonte, um escândalo. Isso gera lide.”
(Assessor de Comunicação)
“O presidente colocou a pauta ambiental e indígena no centro do debate político do Brasil.”
(ONG nacional)
“No geral, a imprensa ganhou relevância de novo, com seu papel de watchdog nesse período de ameaças, de acirramento da crise política. Aumentou o espaço para o tema, há mais matérias especiais, inclusive."
(Cientista)
“Acho que tem gente muito competente hoje acompanhando a pauta ambiental e também indígena no hardnews, não necessariamente porque gostem do tema, mas porque o presidente Bolsonaro colocou a pauta ambiental e indígena no centro do debate político do Brasil. A pauta deixa de ser ambiental e passa a ser política."
(Jornalista)
“Os jornais se comportam muito como atores políticos. Eles odeiam o Bolsonaro, quase todos odeiam o Bolsonaro. Se fosse o governo do PSDB, por exemplo, esses temas teriam muito menos espaço, não tenho dúvida.”
(Jornalista)
“Historicamente, a cobertura sempre deixou a desejar. Dito isso, os povos tradicionais estão tendo mais espaço, o que eles dizem tem uma ressonância maior. Atribuo isso ao aumento da violência que eles vêm sofrendo.”
(Jornalista)
“Por um período, eu me negava a dar entrevistas à Globo, ao G1, esses veículos, porque parecia que eles só queriam expor a minha imagem e muitas vezes distorciam as mensagens. Mas parece que isso começa a mudar. A cobertura tem melhorado.”
(Liderança indígena)
Crédito: CNN

Demarcando as telas, representatividade e produção de fatos políticos

Uma parcela dos entrevistados defendeu que o aumento da cobertura jornalística também foi resultado de mudanças comportamentais no Brasil e ao redor do mundo, como o crescimento e o fortalecimento do enfrentamento ao racismo, a emergente agenda de representatividade e diversidade, o crescimento e a profusão de conteúdos na internet e nas redes sociais, que tornaram evidentes o grande interesse e a demanda do público por esses assuntos.

“Não foi só por causa de Bolsonaro, eu vou ser mais generosa com os próprios movimentos sociais e com a sociedade. Acho que a gente tem mesmo a grande imprensa hoje mais atenta às pessoas indígenas, às pessoas negras. Por que? Hoje a produção jornalística está nas redes, é possível se opor a elas quase no mesmo momento em que elas são colocadas no ar. Além do texto, você tem uma espécie de extratexto, seja nos comentários, nas redes sociais e nos próprios portais, que vão produzir um novo texto, digamos assim, em todos os sentidos. E ninguém quer ficar levando porrada, principalmente os veículos de referência. Essa é uma mudança. Agora, é uma mudança que vai se dar quase totalmente pelo aspecto liberal dessa questão, uma ideia de representatividade, de diversidade."
(Comunicóloga)
“A internet possibilitou a inserção desses temas na pauta não pelo interesse, mas pelo constrangimento. Como a gente é capaz hoje de construir as nossas narrativas e os fatos que estão acontecendo em tempo real, começa a ficar feio para os meios de comunicação não acompanharem essas discussões.”
(Artista indígena)
Crédito: Reprodução Instagram
“Os jornalistas estão sendo educados na porrada. E eles estão sendo cobrados porque o mundo mudou, não tolera mais certas coisas, como os abusos contra as mulheres e os negros. Essa tomada de consciência está provocando transformações homeopáticas, mas graduais e progressivas. A mídia vem sendo pressionada e reagindo. Começa a haver espaço para os povos indígenas, ainda incipiente, mas isso deve crescer.”
(Cineasta)
“A imprensa não é boazinha, mas o próprio movimento está cobrando lugar de fala. Isso obriga a mídia a mudar a forma de representar os povos. São pequenas mudanças, mas eles sabem que vão ter que se adaptar porque as pessoas estão consumindo outras coisas.”
(Cineasta indígena)
“Uma coisa importante desse processo são as chamadas pautas identitárias, que têm gerado uma preocupação maior dos veículos com linguagem, representatividade. Ainda não é uma coisa completamente consolidada, mas tem um caminho se abrindo, com a imprensa preocupada em representar melhor a sociedade brasileira.”
(Jornalista)

Legenda: Thiago Karai participa da série E Eu?, na qual minorias pouco representadas na mídia apontam problemas na relação com a imprensa

Crédito: Folha de São Paulo

A mobilização incessante do movimento indígena contra o avanço da Covid-19 nos territórios e as denúncias sobre a omissão e a violação do direito à saúde, por parte do governo, também foram apontadas como uma das razões pelo aumento da cobertura pela grande imprensa.

“Durante a pandemia, o movimento indígena soube pautar o debate público nas redes e na imprensa tradicional, a partir da produção de releases, organização de sites e campanhas, sistematização e compartilhamento de dados, produção de artigos de opinião e denúncias."
(Assessor de Comunicação)
“Quando você tem impetração de uma denúncia contra um presidente da República no Tribunal Penal Internacional, isso tem que ser coberto e acabou, não tem discussão. Quando fui morar em Londres, a criação de fatos políticos era algo bastante utilizado pela sociedade civil por lá. Você cria notícias de importância que não têm como não serem cobertas. Acho que isso também fez diferença."
(Jornalista)
“Você conquista mais corações e mentes exatamente em épocas difíceis, não em épocas fáceis. Uma maneira de agregar mais apoiadores nesse momento é evidenciar a barbárie. Saber explorar isso tem sido e deve ser uma das estratégias de comunicação do movimento indígena.”
(Jurista)
Crédito: Rádio França Internacional (RFI)

Coberturas exemplares no Fantástico e no Jornal Nacional

Diversos entrevistados dos públicos engajados escolheram programas da TV Globo, notadamente Fantástico e Jornal Nacional, para exemplificar a frequência e aprimoramento da cobertura da imprensa na última década, muitas pessoas se referindo na maior parte das vezes aos últimos anos.

“A pauta socioambiental encontrou, em alguma medida, sensibilidade até na Globo. Acho que melhorou muito a cobertura, em especial, nos últimos dois anos. O Jornal Nacional, o Fantástico e o André Trigueiro têm tido um papel super importante. Mas, ainda assim, mantemos algumas ressalvas em relação à TV Globo, porque o ‘agro é pop’, né?”
(Ativista)
“O Fantástico tem feito uma cobertura sobre a Amazônia como poucos, digna de prêmios. Dá um show. Até o Jornal Nacional a gente pode dizer que fez, em vários momentos, um jornalismo de excelente qualidade.”
(Ativista)
“Hoje, no Fantástico, quase todo domingo tem uma matéria. A equipe tem uma história rica de contato com os temas ambientais, com as questões indígenas, com boas relações, boas fontes. Há hoje um time de repórteres que tem feito uma diferença brutal, a exemplo de Marcelo Canellas e Sônia Bridi, e um pessoal mais jovem, com a faca nos dentes, como o Murilo Salviano.”
(Jornalista)
“O Jornal Nacional já fez edições inteiras sobre a pauta ambiental, a gente virou arroz de festa no programa. Por muitos anos, tinha uma brincadeira que a gente precisava estar no Jornal Nacional. Isso aconteceu umas cinco vezes só no ano passado.”
(Assessor de Comunicação)
"Acho que sobretudo na Globo, que é o canal dominante no jornalismo, eu diria que esses temas têm ganhado mais espaço. Tivemos, inclusive, programas bem focados nessas questões, o programa Falas da Terra, e mesmo o noticiário tem buscado dar um destaque. Esse tipo de iniciativa tem acontecido dentro do Jornal Nacional e do Fantástico, misturando o ecológico com o socioambiental.”
(ONG nacional)
“Acho que melhorou ligeiramente. Dá pra sentir uma certa simpatia aflorando, mais cobertura sobre os ataques e invasões dos garimpeiros, como aquelas reportagens nos territórios dos Yanomami e dos Munduruku. Entretanto, a imprensa não trata da situação pavorosa dos Guarani no Mato Grosso do Sul. O agro é tudo. Mas, vou dizer, fiquei impressionada com o Falas da Terra, tem uma força inédita.”
(Artista indígena)
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Falas da Terra: um marco na TV brasileira

O especial Falas da Terra, que reuniu 21 indígenas para falar sobre os povos indígenas no Brasil, foi considerado “excepcional”, “marcante”, “histórico”, “imperdível” por diversos entrevistados.

Descrito na página da Globoplay como um programa que “lança luz à pluralidade e à luta dos indígenas pelo direito de existirem, em um resultado histórico de valorização de suas culturas”, foi exibido no Dia dos Povos Indígenas em 2021.

A produção contou com direção artística de Antônia Prado, à frente também de Falas Negras e Falas Femininas, consultoria de Ailton Krenak, e coautoria dos artistas e cineastas indígenas Ziel Karapotó, Graciela Guarani, Olinda Tupinambá e Alberto Álvares Guarani.

"O Falas da Terra surpreendeu a todos nós, foi uma coisa bem autoral mesmo, deixou o povo falar. E na mesma semana também teve a TVE da Bahia, e acho que é uma filial da Globo também, fez a Semana dos Povos Indígenas com produções indígenas. A gente viu no Roda Viva Ailton Krenak, a Soninha Guajajara no GNT tratando de política, da história dos povos indígenas. A grande mídia tem nos surpreendido de uns dois anos pra cá. Esse baque que tivemos politicamente foi muito grande, e acabou abrindo espaço pra gente explicar a nossa própria história.”
(Cineasta indígena)
“Acho que o Falas da Terra tem duas ideias interessantes. Quem fala são os índios, não nós falarmos por eles. A segunda foi ter agregado, trazer os índios para estar junto, no processo de criação do programa. Isso foi bom, muito rico internamente, tivemos vários aprendizados. Cada personagem poderia ter sido mais profundo, mas não teríamos 21 personagens em uma hora de programa e fiquei feliz que tenha incluído os Guarani-Kaiowá.”
(Jornalista)
Crédito: Reprodução Instagram
“Essas pautas, às vezes, mesmo quando são sobre indígenas e comunidades tradicionais, aparecem sempre muito ‘ecologizadas’. As coisas como foram mostradas no Falas da Terra podem ser consideradas um marco da TV brasileira. Ele teve um olhar mais qualificado sobre as questões indígenas e sociais, que não foram apresentadas como um apêndice da agenda ambiental.”
(ONG nacional)
“A TV é o veículo com maior acesso no Brasil, inclusive nas comunidades, e falta muita representação. No Falas da Terra, quando nos chamaram para participar da produção, achei positivo. Foi a possibilidade de incluir pessoas que fugiam do estereótipo, sem aquela formatação do que se espera ‘de quem é o indígena’ no Brasil. Tivemos várias personalidades falando sobre assuntos distintos – garimpo, preservação e direito à terra. Personalidades que são importantes para a coletividade e têm coisas importantes para falar sobre a luta dos povos indígenas, foi um ganho. Um bom começo.”
(Cineasta indígena)
“A mídia tende a ser muito negativa. Fiquei surpresa com o Falas da Terra, nunca tem nada nesse sentido. Eles só nos procuram em datas comemorativas ou quando algum indígena faz algo muito negativo.”
(Liderança indígena)
Crédito: Reprodução Instagram

A jornalista Cristina Padiglione, que escreve sobre assuntos relacionados à televisão desde 1990 e mantém na Folha de São Paulo o blog Telepadi, elogiou o programa por ter sido feito por militantes indígenas, mas não para a militância indígena, e por enfrentar e responder os mais diferentes preconceitos contra os povos indígenas no Brasil. Afirmou ainda: “a TV brasileira nunca havia feito um tributo aos indígenas disposto a provocar reflexões como essas”.

Crédito: Reprodução Twitter

Mais jornalistas, foco e atenção de nomes consagrados

Uma parte dos entrevistados pontuou que os povos indígenas “estão finalmente na pauta”, que há mais jornalistas cobrindo o tema, incluindo nomes dos mais consagrados e respeitados do país.

“Essa é uma questão importante para quem não entende de imprensa, se não está na pauta, é muito mais difícil de você colocar na pauta. Agora, se virou pauta, o pauteiro, de vez em quando, chega na segunda-feira e pergunta: ‘Bom, o que está acontecendo com os índios lá na Amazônia?’ Ou seja, fazer parte da pauta é um fenômeno nada desprezível. A questão agora é como manter, aprofundar isso."
(Cientista político)
“Teve um aumento de visibilidade deles até na imprensa. Os jornais sempre odiaram os índios. Eu nunca conseguia emplacar matérias, ninguém conseguia emplacar matérias de índio nos grandes jornais na década de 1990 até muito recentemente. Hoje, tirando o Alexandre Garcia e mais meia dúzia ali na Jovem Pan, todo mundo entendeu a relevância dessas pautas. Sempre teve esse core da imprensa ambiental, as pessoas que já cobriam, a Daniela Chiaretti, a Giovana Girardi, mas hoje tem mais gente, né? Fizemos várias matérias com o Vladimir Netto, o André Borges cresceu enormemente. O Fabiano Maisonnave, evidentemente, é um nome super importante, o Rubens Valente, não preciso falar nada. Tem o pessoal do G1, que começou a cobrir com mais regularidade, outros no UOL, novos canais no UOL. O André Trigueiro, claro. A Sônia Bridi, o Marcelo Canellas. Tem muita gente hoje, muito mais. E tem os independentes. O The Intercept, a Pública, o Repórter Brasil.”
(Assessor de Comunicação)
“Jornalistas como o Marcelo Leite, o Claudio Ângelo, o André Trigueiro, a Sônia Bridi, a Eliane Brum, a Miriam Leitão, tem muitos. Esses nomes dão norte a essas pautas. Agora, hoje esse é tema, especialmente a agenda climática, que permite diferentes pegadas. O jornalista de economia vai falar mais disso, o jornalista com uma pegada mais social mais daquilo, o jornalista de ciências sobre uma outra coisa. Essa diversificação da cobertura é um desafio, mas também uma oportunidade."
(Jornalista)
“Em que pesem os problemas históricos, os preconceitos, houve um grande avanço. Há mais disposição pela cobertura, interesse pela informação. Hoje é razoável. No passado, a regra era a baixa qualidade, e havia uma voz ou outra dissonante mais conhecida, como a de Washington Novaes. Atualmente, tem mais gente e profissionais como a Eliane Brum e o Rubens Valente, que cobrem o tema de forma única e com muita sensibilidade.”
(Jornalista)

Rubens Valente, Eliane Brum e André Trigueiro foram os jornalistas mais citados pela qualidade e pela relevância do trabalho.

Rubens Valente foi apresentado como repórter “excepcional”, “inigualável”, “aquele que melhor conhece as histórias dos massacres dos povos indígenas e os meandros das ofensivas do Estado brasileiro”, “o que cobre com mais consistência esse tema a partir de Brasília". Já Eliane Brum foi lembrada pela “sofisticação”, pela “densidade” e “poética” de seus textos, pela “coragem e ousadia", por “nos fazer repensar o Brasil a partir da Amazônia” e pelo “alcance fora do país''. André Trigueiro foi mencionado pela “relevância”, “contundência” e “pelos comentários afiados sobre os retrocessos da agenda socioambiental não só na TV, mas também nas redes sociais”, muitas vezes pautando também outros jornalistas.

Créditos: GloboNews
Créditos: Cia das Letras
Créditos: UOL

Em geral, os elogios dos públicos engajados/interessados foram quase em sua totalidade a jornalistas e programas e não a veículos de comunicação, com exceção das agências de mídia independente.

Consumo de fragmentos da imprensa, a mídia pró-Bolsonaro

Entre os formadores de opinião dos públicos não engajados e população geral, muito pouco do que sabem sobre assuntos relacionados aos povos indígenas é baseado na cobertura da mídia tradicional.

Os veículos mais mencionados por eles foram Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, CNN, GloboNews, Jornal Nacional e Jornal da Record, e plataformas como G1, UOL e Terra. Mesmo entre jornalistas regionais, essas são fontes de informação importantes e consultadas diariamente. Os jornais locais também são acompanhados pela população geral e pelos formadores de opinião da região Norte — mais em Públicos não engajados.

Com exceção dos jornalistas regionais, as concepções sobre os povos indígenas parecem ser formadas a partir de fragmentos de informação, às vezes, apenas títulos de reportagens ou de publicações em redes sociais, com pouco aprofundamento.

“Sou bastante tradicional no meu consumo de notícias. Sou assinante da Folha e da revista Piauí. A Folha eu acho que faz um trabalho muito bom, talvez nem em profundidade, pois tem um leque muito grande de assuntos que aborda. Eu me informo com eles sobre o que está acontecendo, acho que é um acompanhamento que me permite como jornalista estar minimamente bem informado. Eu gosto da Piauí porque ela avança na área de jornalismo científico. Volta e meia vem uma reportagem de maior fôlego sobre descobertas que estão acontecendo, de plantas medicinais. Agora, recentemente, o João Moreira Salles fez uma série chamada Arrabalde sobre a ocupação da Amazônia.
(Jornalista, GO)
Crédito: Reprodução Twitter

Embora os políticos também sejam leitores das mesmas fontes que os demais, baseiam suas decisões em fontes de informação específicas, como os resumos analíticos elaborados por assessores de gabinete. Empresários e economistas também citaram fontes específicas e a imprensa estrangeira, também uma referência importante para os representantes do agronegócio. O segmento de economistas foi o que demandou informações para avançar em suas reflexões sobre o assunto.

Uma questão muito presente nas entrevistas com os públicos não engajados foi a desconfiança em relação às fontes de informações. Eles tendem a questionar a qualidade das informações sobre assuntos considerados polêmicos, entre os quais se incluem povos indígenas e tradicionais e temas ambientais. Em particular, quem mais reclama da polarização, menos confia nas informações existentes, especialmente na mídia.

“Dependendo de onde você lê, vai ver um extremista para um lado e um extremista para outro. Se houvesse um espaço mais imparcial nesse debate com especialistas que discutem o tema, eu conseguiria ter mais informação e uma opinião sobre isso. Pega o caso dos incêndios do ano passado. Metade dizendo que era sazonal e acontecia todo ano, metade dizendo que era o pior do último século. Você fica muito perdido com essa falta de profundidade. Isso é muito ruim.”
(Empresário)

Apenas um número reduzido de pessoas engajadas fez menção à cobertura pró-Bolsonaro em veículos de comunicação como a Record, o SBT e o Grupo Bandeirantes.

De acordo com reportagem do Poder 360, a TV Record foi a emissora que mais se beneficiou dos recursos destinados pela Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), responsável pela liberação de verbas e gerenciamento de contratos publicitários firmados pelo governo federal, nos anos iniciais do governo Bolsonaro. Entre 2019 e 2021, a TV Record recebeu R$ 58,8 milhões; o SBT, R$ 53,5 milhões; e a TV Globo, R$ 47,2 milhões. Por conta de uma determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), a TV Globo voltou a ser contemplada com a maior fatia do investimento de publicidade estatal federal em 2021.

Além disso, a gestão de Jair Bolsonaro pagou pelo menos R$ 4,3 milhões para apresentadores de TV, radialistas e influencers fazerem merchandising de seu governo, como Datena, Luciana Jimenez e Sikêra Júnior, segundo reportagem do The Intercept Brasil.

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Mobilização histórica vs omissões e fake news na imprensa

A falta de cobertura qualificada e consistente sobre os direitos territoriais dos povos indígenas foi bastante problematizada publicamente durante o julgamento da tese do marco temporal pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em agosto de 2021, quando foi organizada a maior mobilização do movimento indígena desde a redemocratização do Brasil.

Crédito: Reprodução Twitter

Em artigo publicado na Carta Capital, a jornalista, mestra em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e integrante do Conselho Diretor do Intervozes Iara Moura descreve a cobertura da grande imprensa sobre esse evento marco: “Os televisivos SBT Brasil e Jornal Nacional noticiaram o assunto pela primeira vez na terça-feira, dia 24. O Jornal Nacional, da Rede Globo, veiculou nota coberta de cerca de 20 segundos, factual, sem aprofundar o tema. O SBT optou por uma chamada sensacionalista digna dos chamados ‘caça-cliques’: enquanto o âncora anunciava a reportagem, o letreiro exibia: ’7 set? Protesto? O que é o acampamento na Esplanada’. A desinformação de que o protesto seria um preparativo para as manifestações pró-Bolsonaro convocadas para o dia 7 de setembro circulou em Whatsapp e foi desmentida por manifestantes no Twitter“.

A grande imprensa foi questionada nas redes sociais, em artigos de opinião e cartas abertas, como essa, de Mari Stockler, Maureen Santos e mais nove assinaturas, em carta enviada à Folha de São Paulo: “É chocante a grande imprensa não pautar, com destaque e profundidade, a ameaça sobre as populações indígenas. Enquanto o STF julga se as demarcações de terras indígenas devem seguir o chamado marco temporal, o Brasil assiste à maior mobilização indígena de todos os tempos. Mas a imprensa tem preferido ignorar. Portanto, perguntamos ao Brasil e a editores da Folha, recorrendo a uma provocação da líder indígena Sônia Guajajara: até quando toda essa violência não vai mexer com a sua sensibilidade?”

“Aquela mobilização indígena em Brasília não é uma história só indígena, é a história do país, é a história da terra no país, é a história do dinheiro, é a história do capitalismo, é a história da ocupação do território. A história indígena é a história de como uma minoria endinheirada, com armas, com recursos, trata o diferente. Então, de certa forma, é a nossa história. E você revela o seu caráter, sua índole na relação com o mais fraco. É aí que você se revela. Então, quando um editor diz que não entendeu direito a pauta, você vê o abismo que nos separa, né? É um abismo, porque é como se ele achasse que o grupo humano deveria se articular melhor, para passar a sua mensagem. Essa é uma distorção do jornalismo, da natureza do jornalismo, de ir em busca da notícia."
(Jornalista)
“Os indígenas são a única verdadeira oposição unificada no Brasil nesse momento, e só por isso já mereciam a atenção da imprensa."
(Assessora de Comunicação)

Uma das exceções foi a cobertura da equipe do Profissão Repórter, que acompanhou os bastidores da mobilização. As repórteres Mayara Teixeira e Nathalia Tavolieri registraram desde a montagem das primeiras barracas até o início do julgamento. O repórter Caco Barcellos esteve em Santa Catarina com os Xokleng, povo indígena que está no centro da discussão jurídica. O restante da equipe na Terra Indígena do Jaraguá, em São Paulo e em uma expedição com os indígenas Munduruku, no Pará.

Crédito: Rede Globo

A reportagem do The Intercept Indígenas ‘vão tomar até o Morumbi’: o terrorismo da Band pelo marco temporal, detalha a cobertura do Grupo Bandeirantes:

“Enquanto o assunto tem tido pouco destaque na imprensa em geral, na Band ele tem sido a pauta principal. Nas últimas semanas, a cobertura tem sido diária e invariavelmente defende o ponto de vista dos ruralistas. Também pudera, o dono do Grupo Bandeirantes, João Carlos Saad, mais conhecido como Johnny Saad, é fazendeiro e criador de gado. Além disso, tem sido o principal divulgador dos interesses dos barões do agronegócio por meio de seus canais de televisão. O Grupo Bandeirantes, cujo nome é uma homenagem aos homens que escravizaram e assassinaram os povos indígenas no século 17, conta com dois canais de televisão a cabo inteiramente dedicados ao agronegócio e financiados por ele por meio de anúncios: o Terra Viva e o AgroMais. Jornalistas dos canais do grupo chegaram ao cúmulo de dizer que os indígenas poderiam ‘tomar até o Morumbi’”.

Ainda durante o julgamento da tese do marco temporal, um encarte publicitário publicado no jornal O Estado de São Paulo, sem informar quem financiava a peça, indicava a existência de um estudo, sem mencionar a fonte, apontando impacto negativo de R$ 1,95 bilhão em Mato Grosso com a ampliação ou criação de terras indígenas no caso de rejeição do marco temporal. O anúncio foi amplamente criticado nas redes sociais.

O Observatório Socioambiental de Mato Grosso (Observa-MT) publicou uma nota de repúdio na qual explicava que “hoje, de acordo com dados da Funai (Fundação Nacional do Índio), Mato Grosso conta com pelo menos 31 processos de reivindicação de reconhecimento de terras indígenas e 16 com o status formal ‘em estudo’, sem qualquer informação sobre seu perímetro. Ou seja, os números voluptuosos propagandeados pelo jornal são mera especulação”.

Segundo pesquisa do Reuters Institute for the Study of Journalism, são justamente esses veículos que detêm maior nível de confiança por parte do público - Grupo Record (68%), seguido do Grupo Bandeirantes e SBT (64%).

“Diante da polarização da sociedade brasileira, uma parte da população lê as notícias dos conglomerados de mídia hoje como ‘propaganda’, o que é gerado também pelas fakes news e desinformação que circulam nas redes sociais. Houve uma melhoria na qualidade da cobertura da mídia. Não está claro se houve uma melhora no impacto."
(Doador internacional)

Amazônia, cobertura aquém da megadiversidade e novas abordagens

A explosão do desmatamento na Amazônia foi a principal pauta dos últimos anos nessa agenda, na imprensa nacional e internacional. Os outros temas mais citados foram a conservação ambiental de territórios indígenas, o desmonte de políticas públicas socioambientais, a explosão da invasão e da mineração em territórios indígenas, as grandes obras de infraestrutura, os crimes ambientais (como os de Mariana e Brumadinho) e os impactos, perdas e mortes por Covid-19. Ou seja, assuntos majoritariamente atrelados à agenda ambiental. Um número bem menor de pessoas citou a emergência de pautas nos cadernos culturais sobre artistas, escritores e influenciadores indígenas.

“Nos últimos anos, até o Datena, por exemplo, começou a falar de meio ambiente, porque é muito forte o que tá acontecendo. Então, hoje, mesmo que você tenha uma outra posição, que você seja mais conservador, você fala: ‘não, espera aí, isso aqui tá exagerado’.”
(Jornalista)
"É uma cobertura absolutamente desproporcional em relação às necessidades não só dos indígenas, mas às necessidades do planeta. A imprensa deveria ser cobrada por isso.”
(Jornalista)

Houve quem criticasse o fato da urgência e relevância da emergência climática, da pauta ambiental e da defesa dos povos indígenas serem ainda tratadas como agendas à parte e menores em relação ao restante da cobertura jornalística, e não com a importância que deveria ser dada ao assunto — a Folha de São Paulo com apenas um repórter na Amazônia, Fabiano Maisonnave, e jornais sem nenhum correspondente na região foram apresentados como exemplos disso.  

“Acho que falta uma decisão editorial de priorizar esse tema. Precisamos de um movimento como o que The Guardian fez. É necessário, é urgente. Acho que o Brasil deveria ter editorias de meio ambiente, de mudança climática, bem estruturadas, e editorias que dialogassem, colaborassem, trabalhassem com todas as outras. E o Brasil deveria liderar esse processo. Nós estamos no país com a maior mega sociobiodiversidade do planeta. A gente está atrás politicamente, do ponto de vista regulatório, do ponto de vista econômico, mas a gente não precisava estar pra trás também do ponto de vista midiático. Não podemos ficar assim, ‘ah, não tem editoria, mas tem o André Trigueiro’. Ele é gigante, mas um só, e ainda temos a Amazônia e muitas pautas relevantes com pouca ou sem cobertura no país."
(Assessora de Comunicação)
Crédito: Covering Climate Now

Em 2019, o The Guardian se comprometeu a cobrir a crise climática com atenção sustentada e o destaque que o tema exige, adotando uma nova linguagem para a cobertura. O jornal deixou de veicular anúncios de empresas de combustível fóssil, uma inovação entre as principais empresas de mídia, anunciou a meta de chegar até 2030 com emissões líquidas zero e hoje é um dos participantes mais ativos do projeto Covering Climate Now.

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Amazônia além da taxa de desmatamento

Entre os entrevistados de públicos engajados, uma outra crítica que surgiu à cobertura factual da grande imprensa sobre o desmatamento foi a necessidade de reportagens sobre as taxas de desmatamento também serem contextualizadas e uma preocupação sobre o que essas notícias despertam no público. “Houve um aumento, mas não necessariamente um aprimoramento. O mundo todo fala mais da Amazônia, mas não necessariamente fala melhor.”

Algumas pessoas acreditam que, embora seja positivo que mais notícias e reportagens sobre os índices de desmatamento sejam publicadas, que as causas, as dinâmicas de desmatamento, como a população local está sendo afetada, ainda são aspectos, de maneira geral, pouco abordados nas reportagens sobre os dados mensais ou anuais. Criticam também o fato das fontes de informação serem majoritariamente oficiais, mesmo no atual contexto, e a população local pouco ouvida.

“É fundamental a imprensa cobrir os dados do Inpe, dizendo que o desmatamento aumentou. Mas, para mim, parece que quando saem dados, eles pegam uma mesma estrutura de reportagem e alteram os números. Eles chamam alguém do Inpe, ou alguém do governo, mas não chamam um indígena, não investigam as causas do desmatamento a fundo.”
(ONG nacional)
“São x quilômetros. São x campos de futebol. Este é o aumento do mês passado, este é o aumento do ano passado, esta é a última vez que tivemos tanto desmatamento. O que temos de novo a dizer além dos números? Eu me preocupo que as pessoas não estejam mais prestando atenção.”
(Correspondente internacional)

Crédito: CNN

Em 2012, um estudo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), “O Desmatamento na Amazônia no Foco do Telejornalismo”, já havia identificado que atores do Poder Executivo eram as “vozes” predominantes de mais de 60% das reportagens analisadas pelo projeto. Além disso, a pesquisa mostrava uma cobertura nacionalizada, com pouco enfoque nos estados e municípios e sem agregar como fontes representantes da sociedade civil.

Por outro lado, um pequeno número de pessoas destacou a produção de reportagens investigativas sobre a Amazônia em veículos da imprensa nacional e internacional como também decorrentes de bolsas e novas formas de financiamento, como o Fundo de Jornalismo da Floresta Amazônica do Pulitzer Center, lançado em 2018.

A pesquisa publicada na revista científica Nature, de um estudo coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com a participação de institutos e universidades do Brasil e do exterior — cujos resultados apontam que partes do sudeste da floresta amazônica mudaram de um “sumidouro” de carbono para “fonte” de carbono, como resultado do desmatamento e das mudanças climáticas -, esteve entre as 10 com mais visibilidade na imprensa em 2021, de acordo com uma análise do Carbon Brief.

Durante a entrevista, uma correspondente internacional descreveu sua própria experiência pessoal em compreender a complexidade da agenda: “no começo, quando eu queria entender as causas do desmatamento, eu buscava uma lista, como se uma lista fosse responder a essa pergunta. Na verdade, existe todo um sistema operando nesses locais. Na minha opinião, para uma boa cobertura, é importante entender como esse sistema funciona e como as diferentes partes desses sistemas foram se movendo historicamente até a atualidade. Não foi fácil".

Legenda: Fotografia e meio-ambiente: a experiência de Lalo
de Almeida e Fabiano Maisonnave na Amazônia
Crédito: Galeria Utópica

Alguns dos jornalistas mais experientes, cobrindo esse tema há décadas e com compreensão de toda a complexidade da agenda, demonstraram cansaço das dinâmicas de trabalho, da reprodução de velhas notícias como novas e descrença em mudança e contenção da destruição não só da maior floresta tropical do mundo, mas dos biomas brasileiros.

“O melhor — e o mais potente — do Brasil atual e da Amazônia, em todas as regiões, são as periferias que reivindicam o lugar de centro. Nossa melhor chance é nos somar às forças do real centro do mundo onde a disputa pelo futuro é travada, às vezes à bala. É a esse movimento que nós, jornalistas e cientistas, precisamos humildemente servir. Espero que os povos da floresta possam, depois de tudo o que fizemos contra seus corpos, nos aceitar ao seu lado na luta.”
(Discurso da jornalista Eliane Brum durante o primeiro encontro do Rainforest Journalism Fund, em Manaus)
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Saiu antes no The Guardian

Para muitos dos entrevistados de públicos engajados, foi o papel e a cobertura da imprensa internacional que levou, muitas vezes, a imprensa nacional a dar mais atenção a determinados temas.

“A gente adotou como estratégia chamar a atenção da mídia nacional sobre o que se passava em Belo Monte através da mídia internacional. Conseguimos uma articulação muito boa, o apoio do cineasta James Cameron, tivemos muita ajuda da Amazon Watch. Começamos a trazer uma galera de fora para ajudar a gente a pautar no Brasil. E foi exatamente o que aconteceu. Depois que a gente começou a conseguir espaço na imprensa internacional, os jornalistas brasileiros começaram a procurar a gente.”
(ONG nacional)
“O papel da imprensa internacional é muito importante. Os governos municipais, estaduais, federal escutam o que os gringos falam, e a imprensa local costuma segui-los.”
(Correspondente internacional)
“A melhor cobertura de imprensa que a gente tem hoje sobre a questão da Amazônia está no jornal britânico, que é o The Guardian.”
(Cientista)
Crédito: The Guardian
Crédito: The Guardian
Crédito: The Guardian
Crédito: The Guardian
Crédito: The Guardian
Crédito: The Guardian

Diversos assessores de comunicação da sociedade civil, no Brasil e fora do país, disseram que houve um aumento significativo de pedidos de sugestões de dados, fontes e entrevistas a partir de 2018 e uma explosão em 2019.

Os índices recordes de desmatamento na Amazônia foram apresentados como o fator mais importante pelo aumento do interesse dos jornalistas internacionais pelo Brasil nos últimos anos. Outros tópicos listados foram principalmente a violência contra os defensores ambientais e os impactos da produção e do mercado global de commodities agrícolas; e, em menor número, o aumento do garimpo ilegal e a destruição da savana brasileira, o Cerrado.

É importante pontuar que, devido ao agravamento do desmonte da agenda socioambiental, o tema da grilagem de terras também passou a ganhar mais visibilidade. Assim como no Brasil, representantes da sociedade civil internacional acreditam que esse seja um tema que ainda precisa ser mais e melhor apresentado e compreendido pelo público, mesmo o especializado, fora do país.

“Acho que houve um aumento na mídia internacional, hoje mais positiva e mais interessada em povos indígenas, reconhecendo seu papel na crise climática. Durante as queimadas de 2019, aumentou muitíssimo.”
(ONG internacional)

Os entrevistados estrangeiros foram mais positivos sobre a qualidade da cobertura de imprensa. Alguns entrevistados de ONGs internacionais disseram que o aumento de reportagens sobre o Brasil, o desmatamento da Amazônia e os ataques aos povos indígenas resultaram em mais busca de informações em seus sites e doações de recursos às suas organizações.

Os veículos de comunicação internacionais mais citados foram o The Guardian, seguido pelo New York Times e Reuters. A qualidade do trabalho dos correspondentes internacionais no Brasil também foi elogiada por jornalistas e assessores de comunicação brasileiros.

“A quantidade de pedidos da mídia de jornalistas estrangeiros em 2019 foi pesada. Sem pensar muito, me lembro de diversas reportagens e artigos publicados recentemente. Um da BBC, quando Bolsonaro visitou comunidades indígenas. Um artigo de opinião da Sônia Guajajara e de outras mulheres indígenas no New York Times. Um ensaio fotográfico sobre os Munduruku no Washington Post. Um especial multimídia do NYT na Amazônia sobre o impacto da Covid-19 sobre os povos indígenas.”
(ONG internacional)

A imprensa internacional não apenas influencia os jornalistas, mas também foi citada como fonte de informação relevante para os economistas, líderes empresariais e representantes do agronegócio.

“Todo dia leio alguma coisa de fora, porque às vezes eu fico desconfiado do que sai no Brasil”.
(Diretor-presidente de empresa)
Crédito: Reprodução Twitter

Por outro lado, jornalistas enfatizaram ser importante que a imprensa e a sociedade civil no Brasil não restrinjam suas pautas apenas às consideradas relevantes pelos países ricos, do Norte Global, como o desmatamento da Amazônia.

"Não existe um olhar específico do Sul, e discussões desses países não afloram na imprensa internacional e muitas vezes acabam também não ganhando visibilidade por aqui. O que a gente sabe sobre os quilombolas do Vale do Ribeira, mas também do Brasil? O que a gente vem discutindo sobre a produção de feijão no país? Quem está falando sobre a Caatinga, o Pampa? Acho isso muito falho na nossa cobertura."
(Jornalista)
"É inacreditável que um país tão crucial para o debate climático, tão desigual quanto o Brasil, não tenha uma discussão consistente sobre racismo ambiental, olhando para outros países com os mesmos problemas que o nosso no Sul Global.”
(Jornalista)

Alguns dos indígenas e um pequeno número dos entrevistados de públicos engajados se mostraram totalmente céticos em relação à grande imprensa.

"A imprensa parte de uma naturalização que faz parte da construção da identidade social brasileira — indígena serve para morrer, para ser colonizado, o palácio é dos Bandeirantes, a fundação cultural é José de Anchieta, a rodovia é Fernão Dias."
(Jornalista)
“Trágica. A imprensa é uma das principais responsáveis pelos genocídios contemporâneos. Não dão destaque, importância, respeito. Tirando algumas exceções, a imprensa mainstream é conivente com o massacre. Teve o assassinato do Ambrósio Vilhalva, liderança Guarani-Kaiowá, protagonista do Terra Vermelha, que esteve no mesmo tapete vermelho do Brad Pitt e George Clooney. Ninguém noticiou. O processo de expansão econômica sobre os territórios indígenas é legitimado pela mídia.”
(Cineasta)

Crédito: Survival International

"Os canais de grande imprensa no Brasil são muito ligados ao agronegócio, estão cobrindo porque chegou a um ponto que a quantidade de dados e escândalos é tão grande que até eles são obrigados a reportar.”
(ONG nacional)
“Não há interesse em alguns dos meios de comunicação em discutir, colocar certas pautas, porque os donos são exatamente aqueles com quem a gente luta contra."
(Artista indígena)
“Essas mídias mais populares, como Globo, SBT, não se preocupam com a qualidade, estão a serviço de uma determinada ideologia.”
(Liderança indígena)
Crédito: Revista Imprensa

Falta de contextualização, omissões e distorções sobre direito à terra

Para diversos entrevistados, o incremento da cobertura é considerado “insuficiente”, “insatisfatório” diante das omissões e distorções históricas e da diversidade de povos e realidades em todo o país, não apenas na Amazônia.

“A cobertura de imprensa ainda é muito esparsa.”
(Cientista)
“No dia a dia, o contato com esse tema ainda é muito esporádico, pensando na perspectiva do brasileiro médio.”
(Editor)
“São 9,5 minutos para o poder hegemônico e 55 segundos de ‘concessão’ para o campo que defende o planeta, que luta por direitos etc. Brincadeira, né?"
(Jornalista)

Eles consideram que a imprensa ainda tende a ser “reativa”, "superficial”, e a produção jornalística “pouco ou mal contextualizada”, ou “distorcida”, especialmente quando tratam do direito à terra e conflitos territoriais.

“A imprensa acaba sendo muito reativa e a cobertura ligada quase à crônica policial que a reportagens sobre uma guerra social, uma guerra étnica, as tentativas de extermínio desses povos. É muito mais uma coisa policial de crime, sem contexto, sem muita análise.”
(Editor)
“A imprensa não tem uma ligação orgânica com a questão indígena. Acho que deveria existir uma avaliação de natureza ética sobre a relevância das pautas. A imprensa só se move por fatos excepcionais, e esses fatos costumam ser tragédias indesejáveis.”
(Jornalista)
“A mídia apresenta os indígenas como invasores. Quando se diz que 13% do território nacional pertence aos indígenas, as pessoas pensam que é muito, mas esses povos já estavam aqui quando as terras do que chamamos hoje Brasil foram divididas, e foram exterminados, expulsos, postos de lado. A Constituição de 1988 determinou a demarcação de terras indígenas no prazo de cinco anos, mas até hoje brigamos por isso, como estrangeiros dentro das nossas próprias terras."
(Cineasta indígena)
“Hoje, é impossível não ter a agenda ambiental como um dos temas inevitáveis da agenda pública brasileira. Embora conectada à agenda ambiental, a questão da demarcação de terras tem bem menos visibilidade na imprensa.”
(Jornalista)

Crédito: Agência Pública

Reportagens sem aprofundamento, sem contexto histórico, sem tratar os direitos constitucionais e sem ouvir os indígenas como fontes de informação foram criticadas e apontadas como responsáveis por reforçar percepções equivocadas dos povos originários.

“A imprensa parte de premissas que deveriam ser questionadas, tratando territórios de uso coletivo sempre como se fossem destinados a ser propriedade privada, áreas produtivas; essa nossa lógica patrimonialista.”
(Jurista)
“Acho que esse debate chega às pessoas que não estão inseridas no debate muito pautado na violência e nos conflitos, e acho que precisa ser isso porque é o que está acontecendo. Isso reforça uma visão que esses grupos estão vulneráveis e restritos e que poderiam estar melhor se tivessem acesso a outras oportunidades econômicas."
(Cientista política)
“A turma do Repórter Brasil faz um bom trabalho justamente porque faz essa cobertura que a grande imprensa não faz. Porque a questão indígena não anda sozinha, ela caminha junto com a questão fundiária."
(Jornalista)

Para alguns entrevistados não engajados ou mais próximos à agenda ambiental, os conflitos foram associados à falta de oportunidade econômica e não à falta de regularização fundiária, ou à omissão do Estado.

"Há um discurso generalista, abstrato e perigoso sobre os conflitos territoriais. Acho que a preocupação deveria ser em mostrar o porquê determinada pessoa sofreu um atentado, uma violência, e identificar os envolvidos, o papel do Estado, mas não é o que normalmente acontece no Brasil.”
(Jornalista)

Na tese “Violência simbólica na televisão: cidadania e representação dos povos indígenas na demarcação de terras", Gabriela Sanches de Lima analisou o conteúdo jornalístico televisivo sobre o assunto de demarcação de terras indígenas acerca da PEC 215/2000, proposta de emenda constitucional brasileira que pretende rever direitos já garantidos pela Constituição de 1988 e delegar exclusivamente ao Congresso Nacional o dever de demarcação de territórios indígenas e quilombolas. Em sua conclusão, Gabriela afirma: “Também percebemos que a transmissão do tema da demarcação está condicionada ao factual, ou seja, o jornal só transmite aquilo que aconteceu e se limita nisso. Não aprofunda e nem contextualiza o tema, aproveitando o ocorrido (...). Também notamos que a mídia privada constrói a imagem do indígena ora como invasor e ora como vítima, incapaz de lutar pelos seus direitos sem saírem extremamente prejudicados. Tudo isso corrobora com a definição e explanação de poder e violência simbólicos dissertados por (Pierre) Bourdieu, que explica que, de forma muito sutil, quase sem o espectador se dar conta, a emissora constrói uma identidade sem a condescendência dos povos originários, contribuindo para a manutenção do status quo de povos dominados, colonizados e vulneráveis e não como resistentes e cidadãos de suas histórias. De forma arbitrária, a mídia privada apaga o indígena do campo midiático-social”.

Crédito: Rádio Novelo

O dia a dia, seus modos de vidas, suas culturas

Uma parcela dos entrevistados mencionou sentir falta de reportagens sobre a vida cotidiana dos povos indígenas em seus territórios, sobre as questões que permeiam suas vidas no presente, e também aquelas que valorizem a diversidade de modos de vida, saberes, culturas, cosmologias, mas sem exotismos.

Assim como em outros momentos da entrevista, diversas pessoas destacaram a necessidade de que seja dada mais visibilidade aos povos de outros biomas brasileiros, aos que vivem não apenas nos territórios, ao trânsito cidades-aldeias, aos que estão nas cidades.

“Quando se fala de índios, a maior parte da população pensa nos índios do Xingu, no Quarup. A mídia mostra sempre as mesmas imagens, as mesmas comunidades, e as pessoas acham que somos todos iguais."
(Cineasta indígena)
“A imprensa melhorou em relação à precariedade que era antes, mas em relação à maravilha que é a diversidade, à cultura e aos aprendizados, não. Se o Brasil fosse inteligente, tudo isso teria uma dimensão muito diferente.”
(Cineasta indígena)
“Ainda falta uma abordagem mais adequada, pautas mais abrangentes, do cotidiano. Ainda há um contexto preconceituoso, distante e de certa forma arredio ao que o movimento vem pautando, muitas vezes congelado no tempo. A imprensa tradicional ainda tende a reforçar o exótico.”
(Assessor de Comunicação)
“A cobertura dos conflitos, que têm que ser mostrados, enfim, não estou falando que não, mas fico pensando assim: as pessoas casam, as pessoas morrem, as pessoas amam, enfim, as pessoas mudam, as pessoas vivem. Tem uma vida cotidiana indígena que é muito heterogênea, mas que não é visibilizada; é como se a vida da pessoa indígena orbitasse apenas em torno do conflito.”
(Comunicóloga)

Crédito: Sesc Bauru

“A gente deveria ter mais matérias sobre a vida das pessoas nos territórios indígenas, sobre os desafios cotidianos de comunidades, a luta pelo acesso à saúde, à educação, assim como suas festas, suas roças. Esses lugares são vistos como muito distantes, as imagens são muito românticas e limitadas.”
(Jornalista)
“O que eu sinto falta também, mais uma vez, é a valorização do patrimônio cultural. Muitos dos povos que vivem na Amazônia são de culturas ágrafas. Eles transmitem conhecimento pela palavra falada e o conhecimento muitas vezes está ancorado em marcos topográficos, lugares na paisagem, e a gente ainda tem uma compreensão muito restrita da complexidade envolvida nisso. Ainda não se entende a importância do patrimônio arqueológico como parte da história de povos ágrafos, que não transmitiam o conhecimento pela escrita.”
(Cientista)
“Acho que muitos projetos com plantio, com sementes, potenciais da floresta, dos rios, precisam estar mais em pauta. Se fala nisso há tantos anos. Será que os indígenas não poderiam assumir isso, falar mais sobre essas agendas?”
(Jornalista)

Crédito: Folha de São Paulo

“Precisamos encantar. Acho que muitas vezes essa cobertura desencanta. Claro, é necessária a denúncia, mas a gente tem que mostrar essa beleza, que é absurda, de conhecimento, de línguas, de saberes. Tocar esse maracá muito forte, sabe?”
(Editora)
“Falta que seja uma pauta diária na imprensa, nacional e local. É um universo gigantesco, são muitos os temas que ainda são desconhecidos da sociedade brasileira.”
(Cientista político)
“O efeito mais importante é o cumulativo, o fato de toda sexta-feira ter Globo Repórter falando sobre a conservação do meio ambiente, sabe? Precisávamos dessa consistência em relação aos povos indígenas.”
(Cientista)
“Além de denunciar o Bolsonaro, acho que eles — os povos indígenas — precisam falar mais sobre o que poderiam e gostariam que fosse feito. A derrota é um jeito ruim de olhar para o país. Precisamos de mais notícias sobre o que poderia ser a realidade do país sem ele. A Amazônia é fundamental para o futuro econômico do Brasil, chave para o futuro do mundo, e há pessoas dispostas no exterior a fazer parcerias, mas nem entendem como isso seria possível."
(Correspondente internacional)

“Índio genérico", quem fala e racismo e na imprensa

A generalização, o uso de termos inadequados; a necessidade dos jornalistas ouvirem especialistas e não os indígenas como fontes de informação; e abordagens e perguntas inadequadas durante entrevistas foram outras críticas frequentes à cobertura da imprensa.

“Sinto falta de saber mais a fundo quem são os indígenas. Essa ideia de que índio é uma coisa só ainda tem que ser desconstruída no país."
(Jornalista)
“Foi um ponto de inflexão quando coloquei no manual de redação que a gente não usaria mais tribo, mas aldeia, quando falei que a gente não colocaria como legenda de uma foto 'índio acompanha não sei o que lá’, pois a gente não fala ‘japonês ou branco acompanha’. Não fazemos mais isso, mas são deslizes ainda muito comuns na imprensa.”
(Jornalista)
“Ainda precisa haver um aprimoramento na maneira como os jornalistas não indígenas se dirigem aos indígenas. Muitas vezes as perguntas são feitas na forma de uma espécie de interpelação. É muito constrangedor, sabe? O entrevistador se acha no direito de fazer perguntas a uma pessoa indígena como se ela fosse uma espécime de museu ou objeto de pesquisa. 'Você é indígena ou não é?' 'Você se diria aculturada?'”
(Antropólogo)
“Acho que muitos jornalistas competentes, maravilhosos, incríveis ainda se esquecem de entrevistar o índio, porque acham que o índio não tem nada para dizer, que acham que o índio não vai ser qualificado o suficiente para falar sobre aquele assunto, que não confiam que vão render, entendeu? Isso acontece comigo on a regular basis. Eu digo, tem um índio que fala sobre esse assunto. Não tem um especialista? Não, o especialista é o índio.”
(Assessora de Comunicação)
“As organizações indígenas foram se organizando e se conectando a diferentes canais, e isso ajudou a pautar outras referências. A imprensa tradicional tem uma forma de construir suas narrativas: leads, construção dos dois lados, tentativa de imparcialidade. É um modelo. Todo tema precisa de uma voz oficial, uma voz de um especialista e quiçá alguém que viva aquilo. Demorou muito para o indígena ser visto como o especialista, que costumava ser algum representante de ONG. Isso vem mudando. A novidade hoje foi terem incluído essas outras vozes.”
(Assessor de Comunicação)
“Ainda há muita tutela do pensamento intelectual. A ideia de que o indígena não consegue pensar por si só, que é preciso um antropólogo.”
(Artista indígena)
“Os povos tradicionais são sempre meio escanteados pela imprensa porque não é fácil para as pessoas encaixá-los em categorias específicas, e acabam sendo tratados genericamente como pobres, como pessoas desprovidas de conhecimento, opiniões, desejos.”
(Cientista)

No artigo “Subjetividade: Ferramenta para um jornalismo mais íntegro e integral”, a jornalista Fabiana Moraes pontua: "é vital compreender que o caminho da objetividade no jornalismo, para além dos procedimentos técnicos, deve ser guiado também pela percepção da sub-representação que atinge diversos grupos sociais, uma sub-representação causada também pelo jornalismo”.

Crédito: Repórter Eco

Alguns jornalistas descreveram essa cobertura como sendo bastante “complexa”, “difícil”, e que antropólogos têm sido “mediadores”, “tradutores”, algumas vezes importantes.

"Não pode ser tão radical, por que às vezes você nem entende o que o índio está falando. Às vezes, você precisa de um antropólogo para te ajudar a traduzir, para você não falar bobagem. Não é fácil cobrir esse tema. Você precisa ter paciência, esse diálogo demanda um outro tempo, um tempo que muitas vezes a velocidade que as informações e também as fake news circulam, não nos permite."
(Jornalista)
"Há uma percepção de que é um tema cheio de armadilhas, e há um medo de cometer um erro, que vai ser lido como racista, perigoso, desrespeitoso.”
(ONG nacional)
“Entender os mundos indígenas é muito difícil. Meu pai, meu irmão, pessoas que não têm essa relação estreita com essas populações acabam sendo a favor delas quase como uma bondade, um beneplácito, porque o discurso, a narrativa dominante é pautada por uma ideia de bem-estar ligada ao progresso e ao acesso a bens econômicos. E o que sai disso é ou irracional, ou é visto como uma concessão, quer dizer, uma bondade que você faz. ‘Claro, os índios deviam continuar vivendo lá, deixa eles viverem do jeitinho deles, coitados, desde que eles não nos atrapalhem.’ Então, a sociedade como um todo e os repórteres, mesmo quando super bem intencionados, muitas vezes, deixam a desejar em termos de conteúdo, de compreensão, sobre os diferentes modos de vida. Isso, para os antropólogos, é um incômodo, mas a gente tem que aprender a lidar com isso. Eu tenho que saber falar com o meu irmão de maneira que ele entenda que aquilo é mais importante do que um simples ‘a gente tem que ser solidário’. Também cabe a cada um de nós aprender a falar para um público maior, incluindo a grande imprensa.”
(Antropólogo)
“É muito difícil entrevistar os indígenas. Não é fácil. Às vezes, é um pouco como tirar leite de pedra. As conversas, talvez porque sejam feitas num formato que não faça muito sentido pra eles, ou porque somos estranhos, não sei, mas às vezes elas não avançam."
(Jornalista)

O uso de termos considerados inadequados, adotados não apenas pela imprensa, também apareceu nas entrevistas; o porquê de adotar povos originários, ou povos indígenas, e não índios, é um conteúdo recorrente nos perfis dos indígenas nas redes sociais.

Crédito: TV Cultura

Além disso, indígenas entrevistados criticaram o menosprezo a situações de racismo contra os indígenas no país e compartilharam situações em que foram protagonizadas por jornalistas, denunciando também pouca atenção ao que acontece nas redes sociais.

"Eu lembro muito bem no Acampamento Terra Livre, nós estávamos fazendo uma manifestação no Planalto. Logo em seguida, consegui assistir ao jornal, e a chamada da matéria era: ‘pessoas e indígenas invadem o Congresso Nacional’. Eu fiquei bem chateada.”
(Comunicadora indígena)
“Nunca me esqueço dos conflitos em 2012. Houve um tiroteio à noite. Nós ligamos para todo mundo, polícia, antropólogos e imprensa. Ninguém veio. Nós resistimos, houve tiroteio, mas ficamos dentro de casa. No dia seguinte, um caminhão de fazendeiros pegou fogo e imediatamente chegou a mídia, a polícia federal e a polícia militar. Naquele momento eu percebi que nossas vidas não valiam nada, que um carro valia mais que nossas vidas.”
(Cineasta indígena)

No Ministério Público Federal (MPF) do Acre, os apresentadores do podcast Submundo foram condenados a pagar R$ 100 mil de indenização por danos morais coletivos e racismo praticados contra os povos indígenas. No Mato Grosso do Sul, como resultado de um acordo entre o MPF e os radialistas Cícero Lima Faria e Paulo Vagner Santos da Silva, a emissora Grande FM teve que fazer campanhas enaltecendo os valores da cultura indígena pelo prazo de um ano.

“Vivenciamos o racismo, mas isso quase nunca é pautado.”
(Cineasta indígena)
Crédito: Apib

Excelência e inovação entre os independentes, mas e o alcance?

A emergência de veículos independentes foi considerada uma importante e positiva mudança na cena midiática do Brasil na última década, por “diversificar os tradicionais monopólios de produção jornalística com investigações de excelente qualidade sobre temas não abordados devidamente pela grande imprensa, como direito à terra, conflitos fundiários e violência contra os povos indígenas”.

Os jornalistas independentes foram elogiados também pela sensibilidade e pelo primor ao cobrir pautas que têm povos indígenas e comunidades tradicionais como fontes e por experimentações e inovações, como o uso, o cruzamento (e até mesmo a criação) de bases de dados, produções multimídias e parcerias com veículos da imprensa nacional e internacional como a Folha de São Paulo e o The Guardian.

“A Agência Pública, o Repórter Brasil e o InfoAmazonia, por exemplo, são três mídias independentes que estão crescendo, fazendo bons trabalhos. Há 10 anos, você não tinha isso. Essas organizações estavam começando e não tinham fôlego para coberturas mais aprofundadas como as que fazem hoje. Elas conseguiram ocupar um espaço importante, fazendo matérias que a mídia tradicional muitas vezes não se propõe a fazer, ou que apenas passam a cobrir depois desses veículos."
(Assessor de Comunicação)
“O Repórter Brasil tem um dos melhores repórteres investigativos do Brasil, que é o Daniel Camargos. Acho ele um gênio. Ele conseguiu trazer questões a público muito importantes. E é muito fácil um repórter, que não esteja acostumado a lidar com povos tradicionais, falar besteira. Esse negócio da gente cobrar uma linguagem correta e tal, é claro que isso é uma responsabilidade de qualquer repórter, seja o assunto que for, mas é difícil, pois existe preconceito, ignorância, falta de costume, hábito e também pela falta de sensibilidade.”
(Assessor de Comunicação)
Créditos: Repórter Brasil
Créditos: Amazônia Real
Créditos: Agência Pública
Créditos: Amazônia Real
Créditos: Infoamazônia
Créditos: Repórter Brasil

A agência Amazônia Real foi celebrada como a grande novidade midiática dos últimos anos, especialmente pelo foco e por estar na Amazônia e pela incorporação de indígenas na produção jornalística.

“A imprensa tem acompanhado a evolução da violação dos direitos humanos, embora às vezes a representação midiática seja fantasiosa, exótica sobre quem são os povos indígenas. Há um jornalismo investigativo comprometido com a Amazônia e com os povos indígenas, como o trabalho da Amazônia Real.”
(Antropólogo)
“O trabalho altamente especializado que a Amazônia Real vem fazendo merece ser destacado. Nunca houve uma cobertura tão qualificada sobre pauta indígena, com jornalistas indígenas, como hoje. Trabalham com mais de 40 jornalistas, em nove Estados da Amazônia, fazendo o que a Folha não faz, o Estadão não faz, o Globo não faz, elas fazem. Isso nunca existiu no jornalismo brasileiro. Isso é algo inédito, que precisa ser observado, pois ali serão construídas e disputadas muitas narrativas.”
(Comunicólogo)

As fundadoras da agência Amazônia Real, Elaíze Farias e Kátia Brasil, foram homenageadas no 16º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) em 2021, ano em que a série especial “Ouro do Sangue Yanomami’, uma parceria entre Amazônia Real e Repórter Brasil, foi uma das vencedoras do 10º Prêmio Amaerj Patrícia Acioli de Direitos Humanos.

Crédito: Abraji

Algumas pessoas, porém, manifestaram preocupações com o alcance de público, a com dificuldade em falar com os não convertidos e com a sustentabilidade financeira dos veículos de mídia independente.

“Existem canais menores, como a Amazônia Real, com pessoas comprometidas em mostrar conhecimento indígena de forma qualificada, mas eles ainda são lidos por pouca gente.”
(Liderança indígena)
“O brasileiro não lê, não se informa. Tem uma classe média ilustrada, 10% da população brasileira, talvez um pouco mais do que isso, que vai ter interesse e consome esse tipo de conteúdo, né?”
(Jornalista)

Falha na formação, escuta e a crise da imprensa

Algumas pessoas acreditam que a falta de aprofundamento da cobertura da imprensa é também decorrente de falhas na formação dos jornalistas.

"Assim como o restante da sociedade brasileira, os jornalistas têm lacunas graves de compreensão desses assuntos. Para cobrir bem esses temas, os jornalistas teriam que ter um pouco de história do Brasil na faculdade de comunicação, uma versão atualizada pelos povos indígenas e comunidades tradicionais.”
(Cientista político)
“Tivemos várias matérias sobre a Ferrogrão a partir da perspectiva do agronegócio, o que a obra vai representar na economia etc. Essas matérias tinham que falar também dos impactos socioambientais da obra. Em uma entrevista, o ministro da Infraestrutura afirmou que os indígenas estão protestando, pois estão sendo manipulados por ONGs a serviço de competidores do Brasil no agronegócio, que essa obra é muito boa e que ela vai sair. E o repórter ignorou o fato do Brasil ser signatário da Convenção 169 e que não é assim, a obra vai sair. Ela tem que passar por processos de consulta prévia e informada. E isso não é sequer questionado. Acho que isso é muito problemático porque coloca algo como resolvido, quando, na verdade, não foi nem devidamente discutido."
(Cientista)

Alguns entrevistados acreditam que "essa educação deficiente de todos nós", “pressa”, “pressão do tempo”, “velocidade”, mas também “prepotência”, "arrogância", “mentalidade colonialista” não permitem que os jornalistas escutem, dialoguem e tenham encontros significativos com esses povos e seus modos de vida, com o Brasil.

“Eu me lembro como se fosse hoje o dia que me senti aquém do tema. A história me obrigou a ler sobre a terra, a entender sobre o passado daquela terra, daquela região, que passava pela Guerra do Paraguai. Ali eu me dei conta que o que estava fazendo até então não tinha muito sentido. Se a gente quiser entender as questões agrárias, indígenas, rurais, temos que estudar, ler, correr atrás da informação antes de pisar num território indígena, e ali ouvir com muito tempo e atenção os anciãos. Eles têm uma memória impressionante. Muitos desses lugares têm séculos de acúmulos de história.”
(Jornalista)

“A imprensa e os meios de comunicação precisam se dar esse outro tempo e aprender a ouvir e estar com essas comunidades.”
(Liderança indígena)
“Esse privilégio de vivência faz uma diferença fundamental para a comunicação e para o espírito da comunicação. Não tem como você não repensar o que comunica, para mim, na voz de quem fala, o que faz falta."
(Jornalista)

Legenda: Kumuã: os especialistas de cura do Alto Rio Negro

Crédito: Amazônia Real

“O pensamento que nos trouxe até o abismo é um pensamento ocidental, branco, de matriz europeia, masculino, patriarcal, de gênero binário. A gente não vai sair desse buraco com esse mesmo pensamento, a gente precisa mudar o pensamento e isso significa, também, mudar a linguagem. Nós, os não indígenas, os não quilombolas, os não ribeirinhos, temos uma incapacidade de escutar e incorporar as palavras e os modos de pensar desses outros."
(Jornalista)

Os encontros, a construção de relações de confiança e o repensar da linguagem levam e demandam cuidado, tempo, deslocamentos e recursos financeiros, condições de trabalho cada vez mais escassas nas redações.

A crise financeira da imprensa foi descrita como uma limitação para a produção de reportagens de longa duração e ao redor do Brasil, não de hoje, restringindo o que sabemos sobre o país quase sempre a partir de um olhar burocrático e político de Brasília.

“Muitas vezes, tem que ter um investimento na matéria, ir a campo, e os jornais não têm muito tempo e recursos para isso. Eles querem tudo para ontem. Aliás, não acho que essa seja uma característica apenas da imprensa brasileira.”
(Jornalista)
“O tamanho e a localização das grandes redações prejudicam muito essas coberturas de maior fôlego. É muito raro hoje você ver um veículo permitir que um jornalista se desdobre em uma investigação por meses, ou que passe o tempo que for necessário em uma aldeia.”
(Cientista político)
“Os jornais recuaram nessa cobertura do Brasil, recuaram fisicamente mesmo. Um exemplo disso é a editoria da Folha que se chamava Brasil e depois passou a ser chamada de Poder. Os jornais começaram a cobrir o poder e não o território. Mais ou menos assim: a gente tem pouco dinheiro, onde nós vamos priorizar? E eles resolveram priorizar Brasília, poder, Congresso, Supremo, ministérios, aquele círculo ali. Isso é o grosso do jornalismo praticado hoje, cerca de 80% do que era produzido sobre a vida brasileira antes da pandemia. A pandemia trouxe o Brasil para dentro dos jornais de novo.”
(Jornalista)
“A rede de pessoas que a imprensa tem no país é insuficiente, essa rede é quase inexistente. O que seria essa rede? Ao menos uma sede, um fotógrafo, um ou dois repórteres, um carro com capacidade para chegar nas aldeias, dinheiro para barco, para avião. Ou seja, atualmente não se cobre o Brasil.”
(Jornalista)
“A grande imprensa não fala para as pessoas que moram na Amazônia. Essa cobertura diária, mais pontual, mais local, isso ninguém faz. E isso é bem preocupante porque quem elege os políticos na Amazônia são as pessoas que vivem ali.”
(Jornalista)

Os temas difíceis e “esquerda paternalista”

Ainda que a maior parte dos jornalistas tenha preferido não nomear suas principais fontes de informação, vários disseram estar em contato com lideranças indígenas, muitas delas via WhatsApp.

“Com o maior acesso à internet das populações indígenas, os repórteres hoje conseguem ter uma relação direta com os indígenas. Algumas das matérias que fizemos sobre o desmatamento em terras indígenas foram feitas com a colaboração deles porque o alcance da internet permitiu que imagens nos fossem enviadas muito rapidamente. Isso tem permitido a construção de uma relação não apenas mais direta, mas também mais saudável com essas fontes.”
(Jornalista)
Crédito: Operação Amazônia Nativa (Opan)

Alguns profissionais, entretanto, mencionaram sentir falta de materiais de referência, dificuldade de acessar fontes e identificar pautas — uma parte deles relatou experiências em que não tiveram retorno de fontes indígenas, mesmo após diversas tentativas de contato. Essa questão também apareceu em entrevistas com os jornalistas regionais.

Outros fizeram questão de ressaltar que não é apenas a imprensa, mas também o próprio movimento indígena, indigenista, ambientalista que projeta e reforça, algumas vezes, a visão romântica sobre os povos indígenas.

Entre profissionais que não cobrem exclusivamente esses temas, existe a sensação de que certos assuntos são evitados como, por exemplo, indígenas a favor do garimpo e a produção de soja em terras indígenas. Na opinião deles, essas são pautas que deveriam receber mais atenção, para que contextos específicos e o que (ou quem) levou a determinadas decisões pudessem ser melhor compreendidos pela sociedade.

"Havia e ainda há uma visão de esquerda paternalista das questões indígenas que se acha dona dos índios, com discursos e atitudes que atrapalham muito. É preciso prestar atenção nisso, pois quando você fecha o acesso para um contato de qualidade, você abre para a porcaria que vem atrás, como os falsos antropólogos com seus evangelistas.”
(Jornalista)
“Quando estava escrevendo sobre alternativas econômicas para a Amazônia, foi um pouco desconfortável. Pra mim, era importante falar com indígenas envolvidos com atividades ilegais, por exemplo, isso é parte da realidade, mas sentia que essa ideia não era muito bem recebida. Às vezes, tentam caracterizar todos os indígenas de uma mesma forma e como se o conflito de interesses não existisse. Na verdade, acho que deveríamos ter mais reportagens sobre os conflitos, os problemas estruturais desses conflitos, a ocupação histórica desses lugares.”
(Correspondente internacional)
Crédito: O Joio e o Trigo
“Não há disposição no debate em se falar sobre o indígena bolsonarista. Não é um xavante de mentira que está abraçando Bolsonaro. O problema não vai parar de existir. Acho que nos faria bem como sociedade saber quem é aquela pessoa, o que a levou a defender um governo tão anti-indígena como esse.”
(Jornalista)

Indígenas na grande imprensa e comunicação como direito

Uma pequena parcela de entrevistados defendeu que os indígenas deveriam “demarcar as telas” da mídia tradicional, considerada “pouco inclusiva”, “muito elitista”, ainda com “pouca diversidade” em suas equipes.

“Eu sempre falo que o grande problema da mídia é não falar com os olhos indígenas. Raramente a gente vê representatividade na televisão brasileira.”
(Influenciadora indígena)
“Precisa ter apresentador, apresentadora indígena na TV. Não dá para ter mais nenhum espaço só de brancos na sociedade.”
(Ativista)
“Quem é o colunista indígena hoje no Brasil?”
(Cientista política)
“Os índios não têm respaldo institucional. Poderíamos começar por um espaço fixo na TV com profissionais indígenas.“
(Comunicador indígena)
Crédito: UOL

Não se referindo a indígenas na mídia tradicional, mas a novidades no campo da comunicação, diversos entrevistados de públicos engajados citaram, com entusiasmo, a Mídia Índia – mais em Mídias e influenciadores indígenas.

“Bom mesmo seria se comunicação fosse um direito, assim como saúde e educação.”
(Jornalista/curadora indígena)

Os povos indígenas têm o direito de estabelecer seus próprios meios de informação, em seus próprios idiomas, e de ter acesso a todos os demais meios de informação não indígenas, sem qualquer discriminação.

"Os Estados adotarão medidas eficazes para assegurar que os meios de informação públicos reflitam adequadamente a diversidade cultural indígena. Os Estados, sem prejuízo da obrigação de assegurar plenamente a liberdade de expressão, deverão incentivar os meios de comunicação privados a refletirem adequadamente a diversidade cultural indígena.”
(Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2007)
Crédito: Kamikia Kisedje

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