Campanhas de comunicação

Capítulo 9

Campanhas de comunicação

pra você que tá sem tempo...

A campanha mais lembrada e elogiada pelos públicos engajados/interessados foi “Menos Preconceito, Mais Índio”, do Instituto Socioambiental (ISA), de 2017. “O ISA fez um vídeo incrível, desfazendo o mito de que os povos indígenas não podem evoluir, não podem usufruir os benefícios da tecnologia. Ainda não houve esforço suficiente para dissipar a narrativa de que os povos indígenas são contra o desenvolvimento ou de que são menos autênticos se fazem uso de alguns dos nossos avanços tecnológicos."

A segunda campanha mais lembrada foi “Somos Todos Guarani Kaiowá”, desencadeada por uma carta de 170 indígenas, na qual pediam a morte coletiva dos Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay, após pedido para que desocupassem uma área ainda não demarcada em Mato Grosso do Sul. Além do acréscimo de Guarani-Kaiowá ao sobrenome de usuários do Facebook, posts e twitaços com as hashtags “#SomosTodosGuaraniKaiowá” e #SouGuaraniKaiowá, diversos atos públicos foram organizados em cidades brasileiras e fora do país e uma petição da Avaaz reuniu quase 350 mil assinaturas.

A terceira campanha mais citada foi a “É a Gota d’Água+10", que reuniu em uma única peça diversos artistas globais, como Juliana Paes e Marcos Palmeira, questionando a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. O abaixo-assinado pedindo a paralisação da obra reuniu mais de 2,5 milhões de assinaturas. A campanha não deteve a construção de Belo Monte, mas o movimento criado acabou se desdobrando na organização Uma Gota no Oceano, agora com 10 anos.

A participação de artistas e celebridades foi identificada como fundamental para maior visibilidade das campanhas junto ao grande público e como fator determinante para interromper a votação dos projetos de lei contrários ao meio ambiente e aos direitos de povos indígenas nos últimos anos. 

A linguagem de algumas peças de comunicação foi descrita por entrevistados, especialmente por artistas, como “excessivamente estetizadas” e “distantes da realidade dos povos indígenas”. Outras pessoas pontuaram que as campanhas precisam produzir brilho nos olhos e não sensação de culpa. “A maioria das pessoas se fecha pra isso.”

Foram compartilhadas ainda questões sobre o uso de termos pouco compreendidos pela sociedade em campanhas, como “marco temporal”, “demarcação de terras”, “grilagem”. Simplificá-los e debatê-los com a sociedade “seria um modo de ultrapassar as bolhas em que a gente vive”. Atualmente, “são campanhas que circulam nos mesmos lugares, grupos, pessoas. Não saem daquele clube. Uma das coisas que é urgente é que os movimentos, redes, observatórios, entrem em contato com outros movimentos. As campanhas precisam alcançar e pensar também nas áreas rurais, dialogar com as populações das periferias do país”.

Várias pessoas destacaram a importância de expandir a elaboração de campanhas para além do eixo Rio-São Paulo, pensando nas populações da “região amazônica” e de “outras regiões do país”.

“Demarcação Já!”, “Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais” e a campanha contra a extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca) também foram mencionadas por terem sido lideradas pelo movimento indígena ou por vitórias, ainda que temporárias.

Mesmo não ligada diretamente aos povos indígenas, a campanha da Rede Globo “Agro: A indústria-riqueza do Brasil” foi mencionada por entrevistados para pontuar a ausência de uma campanha que se iguale a essa em termos de meios, estrutura, grandiosidade, orçamento e duração. “A afirmação ‘O agro é pop’ pelas redes de televisão é violenta e não deveria existir, uma vez que TVs são concessões públicas.”

Diversas peças de campanhas e de comunicação foram testadas entre os públicos formadores de opinião não engajados e a população geral. As narrativas e o protagonismo dos próprios indígenas, especialmente das mulheres, foram bastante valorizados, assim como os cenários reais, que aumentam a credibilidade. No caso dos formadores de opinião, há interesse também por vozes que apresentem perspectivas complementares aos dos povos indígenas, como as de cientistas e de especialistas.

A apresentação da diversidade de culturas e saberes indígenas desperta respeito e interesse. As peças que desmistificam estereótipos e apresentam os povos indígenas em cenários e comportamentos atuais foram muito bem aceitas e consideradas esclarecedoras, elucidativas. O uso do humor é bem-vindo, mas o sarcasmo tende a ser rejeitado e considerado ofensivo. As propostas que evocavam a ideia de “nós contra eles”, “vilões e heróis” geram desconforto e despertam sentimentos de culpa, tristeza e impotência. 

Mergulhe aqui!

Para os públicos engajados/interessados, perguntamos se e de quais campanhas produzidas na última década se lembravam e consideravam que tinham sido as mais importantes. Os entrevistados de públicos não engajados foram convidados a assistir e comentar peças de campanhas já realizadas.

A campanha mais lembrada e elogiada pelos públicos engajados/interessados foi “Menos Preconceito, Mais Índio”, a primeira para tevê e cinema do Instituto Socioambiental (ISA), lançada em 2017.

“​​A primeira que vem à cabeça é aquela do ISA, toda narrada em Baniwa. É linda essa propaganda, foi super acertada! ‘A gente aqui, esse monte de gente primitiva, que vive pelado, não sei o quê’, e mostra os caras com celular, dirigindo carro. Eu queria que tivesse tido mais repercussão, porque foi exibida por um período curtinho e depois meio que evaporou.”
(Jornalista)
“Tem um abismo tão grande na sociedade em relação ao entendimento do que é ser indígena. Há uma enorme desvalorização e desrespeito a isso tudo ao longo da nossa história. Essa campanha, curtinha, é super efetiva porque vai em pontos-chave e faz as pessoas pensarem que, se a gente pode mudar, como eles não vão mudar? Por que eles vão deixar de ser índios?”
(ONG nacional)
“Teve uma que acho que foi o ISA que produziu, que era um grupo de indígenas vestindo roupas, usando celulares, contrastando aquela imagem que temos deles, daquela cultura congelada no tempo, uma cultura não dinâmica. Os jovens, as pessoas ali, confrontando essa visão e mostrando que ser índio não significa apenas estar na aldeia isolada do mundo, mas que eles podem se apropriar de tudo que a cultura não indígena oferece e, ainda assim, serem índios. Acho que essa foi a campanha mais marcante.”
(Empreendedor)
“O ISA fez um vídeo incrível, desfazendo o mito de que os povos indígenas não podem evoluir, não podem usufruir os benefícios da tecnologia. Ainda não houve esforço suficiente para dissipar a narrativa de que os povos indígenas são contra o desenvolvimento ou de que são menos autênticos se fazem uso de alguns dos nossos avanços tecnológicos."
(Cineasta)
“Aquela campanha do ISA que foi feita lá no Rio Negro, que tem só dois minutinhos, é fantástica. Porque o que acontece é bem aquilo mesmo. Acho essa campanha bárbara, porque toca em uma questão primordial, a ignorância e o desconhecimento das pessoas.”
(Cientista)

Crédito: Instituto Socioambiental (ISA)

Com criação da JW Thompson e produção da Pródigo Filmes para o ISA, a peça convidava os brasileiros a olhar os indígenas com mais generosidade, respeito e sem preconceito, como detalhado no site da campanha: “Muitos índios sofreram críticas e agressões simplesmente por terem incorporado hábitos e tecnologias não indígenas ao seu dia a dia, como se, para ter suas identidades respeitadas, precisassem viver parados no tempo, em um museu. Os índios, como cada um de nós, são donos de suas identidades e incorporam o que quiserem do mundo que os rodeia, sem deixar de ser índios. Se você não é mais igual aos seus tataravós e não tem sua identidade questionada por isso, por que os índios não podem também mudar e ainda assim continuar sendo índios com todos os seus direitos respeitados?”

Diversos entrevistados da sociedade civil disseram exibir o filme em cursos, em reuniões e até mesmo distribuí-lo em grupos no WhatsApp. Mesmo assim, muitos levantaram questões sobre o alcance da campanha, seja pela curta duração e pelos canais de exibição, seja pela ausência de um call to action e de ações complementares a essa peça. Também não pareciam ter conhecimento de inserções da campanha em canais de TV e nos cinemas. 

#SomosTodosGuaraniKaiowá

A segunda campanha mais lembrada foi Somos Todos Guarani Kaiowá.

A onda de solidariedade no Brasil e internacionalmente foi desencadeada por uma carta da comunidade de Pyelito Kue/Mbarakay, após pedido para que desocupasse uma área ainda não demarcada em Iguatemi, em Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai. 

Na carta, 170 indígenas, 50 homens, 50 mulheres, 70 crianças, afirmavam: “Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyelito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que, no centro desse nosso território antigo, estão enterrados vários dos nossos avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje. Por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui.

Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente não sairmos daqui com vida e nem mortos”.

Além do acréscimo de Guarani-Kaiowá ao sobrenome de usuários do Facebook, posts e twitaços com as hashtags “#SomosTodosGuaraniKaiowá” e  #SouGuaraniKaiowá, diversos atos públicos foram organizados em cidades brasileiras e fora do país e uma petição da Avaaz reuniu quase 350 mil assinaturas. 

Crédito: Percurso da Cultura e reprodução Instagram
Crédito: Percurso da Cultura e reprodução Instagram
Crédito: Percurso da Cultura e reprodução Instagram
Crédito: Percurso da Cultura e reprodução Instagram
“Teve aquela época que todo mundo mudou o sobrenome para Guarani-Kaiowá. Acho que foi o primeiro e talvez o único grande momento de rompimento de bolhas, de viralizar campanha nas redes sociais. Ela só teve o alcance que teve por causa do Facebook.”
(Editor)
“Os Guarani-Kaiowá, eu acho que foi um marco. Aquela carta foi algo muito, muito forte. Aquela carta foi, de certa maneira, tão importante quanto a de Pero Vaz de Caminha, só que escrita por outras mãos.”
(Jornalista)
“A onda dos sobrenomes Guarani-Kaiowá nas redes sociais foi um marco memético, um precursor do acirramento das guerras culturais.”
(Assessor de comunicação)
“Guarani-Kaiowá marcou muito nas redes e foi uma mobilização que englobou muitas organizações internacionais. A Anistia Internacional, por exemplo, transformou essa campanha num case.”
(Doador internacional)
“Teve a campanha Guarani-Kaiowá. Ela representa uma mudança do ponto de vista do que significa, na opinião pública, se engajar com as redes sociais. A partir de 2012, 2013, você tem essa mudança no Brasil, de mobilização pelas redes sociais de maneira muito forte, essas mobilizações que vinham no bojo daquela onda anticorrupção no país.”
(Doador nacional)

No artigo “O Dia em que o Mundo Virou Guarani-Kaiowa”, o antropólogo Spensy Pimentel explica: “com o apoio do Fundo, Tonico Benites conseguiu levar um pouco do olhar indígena sobre essa tragédia que já dura décadas. Com muito pouco, foi possível operar uma pequena revolução na percepção brasileira sobre o que acontece ali. Os problemas dos Guarani-Kaiowá seguem sem solução – mas já é um grande passo que não se possa mais atacar ou ameaçar um acampamento indígena sem causar um grande barulho na sociedade civil brasileira e internacional. Seja no front de Mato Grosso do Sul ou na internet, onde milhares de pessoas hoje atuam para difundir informações e pressionar as autoridades, a luta continua.” 

Crédito: Itaú Cultural

Em 2013, diante da repercussão do caso, a Funai publicou um relatório que identificou e delimitou a Terra Indígena Iguatemipeguá I, onde viviam os Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay. Também em 2013, o Facebook passou a impedir que os usuários mudassem seu sobrenome para Guarani-Kaiowá. 

O levantamento da DAPP/FGV sobre as redes sociais identificou que, entre 2015 e 2018, houve uma intensificação de campanhas digitais em torno do povo Guarani-Kaiowá. Em todo o período, foram coletados mais de 17 mil posts, que somaram mais de 1,5 milhão de interações. O tema obteve maior destaque no segundo semestre de 2015, com publicações do então deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e de organizações como Cimi, Greenpeace, Mídia Ninja e Anistia Internacional

Em 2016, foi finalizado “Martírio”, documentário de Vincent Carelli que retrata a luta dos Guarani-Kaiowá pela reconquista de seus territórios e que recebeu, entre outros, o prêmio de melhor filme pelo júri popular e o prêmio especial do júri oficial no Festival de Brasília, o prêmio de melhor documentário na 40ª Mostra de Cinema de São Paulo e o prêmio de melhor filme latino-americano no Festival de Mar Del Plata – mais em Arte, cultura e entretenimento.

Em entrevista à revista Trip em 2017, Vincent Carelli, em resposta à pergunta sobre o fato de muita gente não ter entendido o significado daqueles sobrenomes no Facebook e sobre a falta de informação sobre a situação indígena no Brasil, afirma: “Sem dúvida, porque a mídia hegemônica não fala de índio, virou um tema tabu. É algo que circula nas redes sociais, ou melhor, circula na minha rede social, porque fica restrito a uma bolha. Tudo isso me motivou a fazer Martírio: a necessidade de esclarecer esse drama. Aqui não é a Síria, não é possível esses homicídios à bala em pleno século 21!”

Já em 2021, a Aty Guasu, junto com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental (Rais), lançou o documentário “Tempo de Guavira”, no qual mais de 40 depoimentos indígenas compõem as narrativas de recuperação dos seus tekoha (“o lugar onde somos o que somos”) em Mato Grosso do Sul. Entre novembro e dezembro de 2018, durante o tempo de amadurecimento da guavira, fruta tradicional para os Kaiowá e Guarani, uma equipe de pesquisadores indígenas e não indígenas realizou trabalho de campo e registros audiovisuais em 46 dessas terras, em particular as que ainda não foram demarcadas.

Crédito: Tempo de Guavira

ARTISTAS GLOBAIS NA LUTA CONTRA BELO MONTE

A terceira campanha mais citada foi a “É a Gota d’Água+10" , do Movimento Gota d'Água, criado com o objetivo de envolver a sociedade brasileira na discussão sobre o planejamento energético do Brasil. 

A principal peça da campanha, um filme dirigido pelo cineasta Marcos Prado, diretor de “Estamira”, “Ônibus 174” e “Os Carvoeiros”, reuniu artistas globais, como Juliana Paes, Marcos Palmeira, Maitê Proença, Isis Valverde e Ary Fontoura, que questionavam a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte – mais em Eventos e momentos marco.

Crédito: Uma Gota no Oceano

O abaixo-assinado da campanha, pedindo a paralisação da obra, reuniu mais de 2,5 milhões de assinaturas e foi entregue aos ex-ministros Gilberto Carvalho (Casa Civil), Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Edison Lobão (Minas e Energia), em dezembro de 2011.

A campanha foi lembrada pelo peso e engajamento dos artistas envolvidos, pela novidade que isso representava na época, pela mobilização nacional e internacional e pelo debate que gerou sobre a usina hidrelétrica na grande imprensa.

“Belo Monte contou com várias campanhas de comunicação. Teve aquela Gota D’Água, que foi super relevante, realmente um marco no engajamento de atores e atrizes brasileiros, de peso, globais.”
(Jornalista)
“Tem um momento muito marcante que é aquele famoso vídeo dos artistas sobre Belo Monte. O vídeo do Gota D’Água. Eu já trabalhava com comunicação, trabalhava diretamente nesse tema, e foi a primeira vez que vi um tema ambiental virar assunto de mesa de bar. As pessoas realmente discutiam isso. E todos com opiniões apaixonadas e erradas, mas, enfim, todo mundo com o tema na boca.”
(Assessora de Comunicação)
“Belo Monte é um momento de ruptura muito grande. E teve a participação de todos aqueles atores, Letícia Sabatella, coisa que em outros tempos não teria ido tão longe como foi naquele momento.”
(Editor)
“A campanha de Belo Monte foi importante, mas eu diria que hoje darmos espaço e valorizarmos os artistas indígenas é ainda mais importante.”
(Cineasta)

A campanha não deteve a construção de Belo Monte, mas a campanha criada pelo ator Sérgio Marone e pela jornalista Maria Paula Fernandes acabou se desdobrando na organização Uma Gota no Oceano, que apoia movimentos sociais na elaboração de estratégias de comunicação para ampliar a empatia e solidariedade ativa da sociedade brasileira com causas socioambientais e que, em 2021, completou 10 anos de existência.

A movimentação contrária à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte foi observada na análise da DAPP/FGV sobre as redes sociais. O perfil da Uma Gota no Oceano ganhou destaque nos anos de 2014 e 2015, com atividade muito expressiva no Instagram. 

A resistência e oposição à usina hidrelétrica continuam vivas, como detalhado em Eventos e momentos-marco.

Crédito: Uma Gota no Oceano

Tapajós Livre!, causas e celebridades

A campanha contra as usinas hidrelétricas no Tapajós do Greenpeace Brasil também foi citada por entrevistados engajados/interessados. 

A campanha, que reuniu mais de 1,2 milhão de assinaturas contra a construção das hidrelétricas, contou com a organização de diversos protestos, arte urbana e adesão de artistas e celebridades nacionais e internacionais. Além disso, pesquisadores elaboraram uma análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da hidrelétrica, mostrando a inviabilidade do empreendimento. 

O levantamento da DAPP/FGV sobre as redes sociais identificou a luta dos Munduruku contra a construção do Complexo Hidrelétrico do Tapajós como um dos destaques do período de 2011 a 2014. 

Crédito: Greenpeace Brasil

Em agosto de 2016, o Ibama anunciou o cancelamento do processo de licenciamento da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós.

A participação de artistas e celebridades foi identificada como fundamental e o principal fator para maior visibilidade às campanhas junto ao grande público e como fator determinante, ainda que frágil, para interromper a votação dos projetos de lei contrários ao meio ambiente e aos direitos de povos indígenas nos últimos anos. 

“Nos últimos anos, acho impressionante a forma como o ambientalismo e os indígenas foram abrindo para a conversa com públicos diferentes, chamando os artistas. Isso não existia tanto antes.”
(Doador internacional)
Crédito: Greenpeace Brasil
“O engajamento dos artistas nas redes sociais consegue romper os limites que o campo socioambiental tem, levando a um alcance que certamente não existiria se não fossem esses perfis de grandes artistas, com milhões de seguidores. Esse movimento cresceu bastante, são muitos os canais para isso hoje. E você tem essas figuras-chave que fazem esse meio de campo, como o 342, a própria Maria Gadú, que passa a ser além de uma artista incrível, uma ativista. Acho que isso tem uma força bem grande e um impacto. E temos também uma produção artística que bebe dessa fonte, o Chico César, o Carlos Rennó. Agora, tirando esses artistas mais engajados, que mergulham, a gente ainda tem no mainstream muitos estereótipos a derrubar para que possa haver interação criativa e artística em torno dessas questões.”
(ONG nacional)
“Temos que trabalhar com eles para ampliar a visibilidade das causas dos povos indígenas. O Bolsonaro tem mais preocupação com o que o Felipe Neto publica no Twitter do que com o que a Folha publica nas suas páginas. Esse é, sem dúvida, um caminho sem volta.”
(Assessor de Comunicação)
“A mudança de posição do governo Temer sobre a Renca – Reserva Nacional do Cobre e Associados – por causa de um tweet de Gisele Bündchen foi um momento tipicamente brasileiro.”
(Correspondente internacional)
“As campanhas das quais eu me lembro são as do 342. Acho que o trabalho da Paula Lavigne tem sido muito importante. Tanto o de conectar indígenas e artistas quanto a pressão aos parlamentares no Congresso.”
(Ativista)

Entretanto, algumas pessoas consideram que o engajamento dos artistas ainda é “superficial”, “esporádico”, “disperso”, “tímido”, e que as campanhas são “reativas”, “emergenciais”, “pouco planejadas”.

Crédito: Alessandro Molon

“O 342 tem feito um trabalho perceptível, sem dúvida alguma. Acho que tem uma coisa meio de ficar jogando para tudo que é lado, com muita coisa pipocando, mas, às vezes, falta um pouco de fôlego de levar até a próxima casa, de sustentar as coisas. Tudo é emergência, tudo é muito rápido, tudo precisa fazer, assinar, postar. Então, acho que tem um papel importante, mas falta que seja um pouco mais estratégico. Teria um ganho enorme, porque acho que é um trabalho sério e importante.”
(Doador nacional)
“Acho que falta maior engajamento no meio artístico. Não existe tanto comprometimento e falta representatividade de pessoas que falem a partir de uma vivência com comunidades tradicionais.”
(Cientista)
“O problema é como os artistas podem tratar uma questão ligada a direitos humanos, uma coisa muito séria, sem deixá-la superficial. ​Alguns influenciadores têm dificuldade de ir além daquilo que cabe num tweet. Mudam de um assunto pra outro muito rapidamente. Acho que, se fica superficial, não comunica o tamanho do drama, não ajuda as pessoas a entenderem o que está por trás, não politiza, mas talvez eu esteja sendo idealista e purista demais. O que a Petra Costa fez com a Sônia Guajajara, de abrir caminho para acessar pessoas, acho muito interessante. Ou o que o Sting fez com o Raoni. A figura do influencer que não tem coerência no rolê, eu acho superficial.”
(Ativista)
“Eles fazem muito barulho, mas não apresentam solução. Isso chama a atenção e mantém o tema em discussão, mas precisamos de propostas. Os índios garimpeiros também são muito fortes nas redes.”
(Jornalista)

A pesquisa "Juventude e Democracia na América Latina", encomendada pela Luminate, lançada no início de 2022, aponta que os jovens brasileiros entre 16 e 24 anos estão moldando as suas posições políticas por meio de influenciadores que seguem no TikTok, Instagram, YouTube e Twitter.

Crédito: Global Citizen

#ForaGarimpoForaCovid, novas estéticas e diferentes linguagens

Também de acordo com o levantamento da DAPP/FGV, a hashtag #ForaGarimpoForaCovid foi uma das campanhas com grande repercussão nas redes, contando com um alcance potencial de 2,5 milhões de usuários. O alto alcance potencial esteve relacionado aos perfis com grande número de seguidores que se engajaram na campanha, como a cantora e ex-BBB Karol Conká.

“A campanha ‘Fora Garimpo, Fora Covid’ dos Yanomami foi extremamente importante, bem sucedida, e trouxe uma visibilidade maior para essa causa, que é uma causa antiga, que é o problema do garimpo, da poluição dos rios, da violência e das doenças.”
(Antropóloga)
“​​Essa campanha recente ‘Fora Garimpo, Fora Covid’ tem sido muito eficaz. Acho que ela é importante também porque traz muito a voz dos próprios Yanomami falando.”
(Cientista)
“Uma peça que emocionou muito foi aquela dos Yanomami, que faz um retrospecto da história dos Yanomami, mostra a nossa chegada, a evolução tecnológica, o homem-lixo, as comunidades protegendo dessa crise em que estamos. Acho que foi muito inspirada naquele livro do Davi Kopenawa. É um vídeo que mexeu muito comigo, acho que o ISA ajudou a organizar.”
(Filósofa)

Nem todos, entretanto, gostaram da peça “A Mensagem do Xamã”, parte da campanha, que foi atribuída ao ISA.

“Acho que tinha que ser uma peça mirando a Cartier, atrizes de Hollywood.”
(Ativista)
“O ISA fez algumas campanhas muito bem-feitas com uma circulação menor, pela internet. Eu me lembro de uma feita com o Davi Kopenawa, que achei que eles perderam a mão, exageram. Porque reforça o estereótipo do nobre selvagem.”
(Antropólogo)
“Tive dúvidas porque falava de um futuro em que os Yanomami teriam morrido. Não gostei disso, mas atingiu muita gente.”
(Artista)

Crédito: Instituto Socioambiental (ISA)

Crédito: Instituto Socioambiental (ISA)
“Eu amo o ISA, mas não gosto das campanhas, parece que elas não têm nada a ver com o que eles fazem. Há aquela falsa premissa de que, para atingir mais gente, precisamos de uma linguagem publicitária, tratamento de imagem, cortes rápidos etc. A gente pretende desconstruir o estereótipo do indígena com uma linguagem estereotipada norte-americana. Todo mundo faz peças de campanhas com a mesma linguagem, independentemente do tema; Yanomami, Belo Monte, minhocas, mulheres engravidando aos 39 anos, Wall Street. O conteúdo pode ser importante, mas, se você me diz do mesmo jeito, qual a mudança possível?”
(Artista)

A linguagem estética predominante em peças de comunicação, não apenas de campanhas do ISA, foi descrita por alguns dos entrevistados como “excessivamente estetizadas”, “alheias” e “distantes do Brasil e da realidade dos povos indígenas”.

Legenda: Painel sobre cultura indígena, linguagens e estéticas do Festival do Conhecimento
Crédito: UFRJ
“Eu adoraria encontrar um sertanejo bem posicionado para fazer uma campanha, mas até hoje não foi possível."
(Assessor de Comunicação)
“Tenho um bode daquela estética artificial Sebastião Salgado. Acho que a questão agora deve ser como eles querem ser retratados e não como a gente quer vê-los.”
(Ativista)

As campanhas precisam produzir brilho nos olhos

Outros entrevistados, em particular os nomes ligados à arte e cultura, acham que tem sido dada muita ênfase à resistência e à luta política e pouca atenção à beleza, à riqueza e à diversidade cultural dos povos indígenas e comunidades tradicionais, questão já levantada em Cobertura da grande imprensa.

“A narrativa daquilo que se repete há 500 anos é tão desanimadora que dá vontade de fazer outra coisa. Imagina o cidadão comum, aquele que já não tá muito aberto, não é aberto a essas discussões. Quando aquilo chega, ninguém quer abrir espaço no seu coração, na sua cabeça.”
(Doadora nacional)
“Muitas vezes existe um discurso, uma propaganda desse indígena miserável, um apelo disso que eu acho pouco produtivo. Porque a gente sabe que o conhecimento indígena vale mais do que um boi, vale mais do que uma árvore, vale muito mais. São tesouros. Eu entendo que esses caminhos todos fazem parte, mas gostaria de ver muito mais por aí a pulsão das questões culturais.”
(Editora)
“As campanhas precisam produzir brilho nos olhos e não a sensação de culpa. A gente tem atuado no campo da culpa e a grande maioria das pessoas se fecha pra isso. A anticiência, por exemplo, é cultivada nessa aversão que as pessoas têm a ouvir que estão erradas.”
(Cientista)
Crédito: Rivane Neuenschwander
“Como componente mitológico da alma nacional, o indígena tem espaço, hoje reprimido, no nosso imaginário. Todo mundo acha bonito arte plumária, rituais, pintura corporal. Tem muita coisa a ser mobilizada aí.”
(Artista)
“​​As pessoas não sabem, por exemplo, que todos os hábitos alimentares brasileiros, a maioria deles, tem a ver com as culturas indígenas. E aí, fala que o tererê é típico de Mato Grosso, os agroboys tudo tomam tererê. O tererê é indígena. O chimarrão é gaúcho? Não, é indígena, guarani.”
(Assessora de Comunicação)
"Há muito denuncismo, aquela música forte, coisa e tal. Não sei o quanto isso ecoa, chega nas pessoas. A gente esquece que há um enorme desconhecimento da população brasileira sobre esse assunto, e as pessoas precisam entender melhor o que queremos proteger. Eu acho que só podemos proteger o que a gente conhece, quando há uma ligação afetiva.”
(Cineasta)
“Mudanças concretas só acontecem quando algo afeta as pessoas diretamente. Como mexer com as pessoas de fato?”
(Cineasta)

Foram compartilhadas também questões sobre a linguagem usada nas campanhas e sobre o uso de termos e jargões pouco compreendidos pela sociedade, como “marco temporal”, “demarcação de terras”, “grilagem de terras”.

Algumas entrevistas com os públicos não engajados foram feitas durante a votação da tese do marco temporal pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Entre os entrevistados da população geral, poucos se lembraram de notícias a respeito e, para a grande maioria, esse tema teve de ser explicado.

“Marco temporal para muita gente não tem o menor significado, não é um termo que faça parte do vocabulário das pessoas. Traduzir o que significa esse termo, simplificá-lo e debatê-lo com a sociedade e aproximar a luta indígena de outras lutas seria, para mim, um modo de ultrapassar as bolhas que a gente vive.”
(Artista indígena)
“Os repórteres que trabalham conosco são repórteres sensíveis aos temas que a gente cobre, mas, muitas vezes, são profissionais que começam a trabalhar conosco sem saber o que significa o termo grilagem. Então, se essa pessoa não sabe, imagine o restante da população?”
(Jornalista)

Legenda: Fatos Florestais: Grilagem de terras
Crédito: Observatório do Clima

“Às vezes, somos muito preciosistas, querendo passar a informação completa, achando que falta alguma coisa. Fica muito chato e pouco claro.”
(Cineasta)
“Tem que ter lugar de enfrentamento, mas também disputar o público, e falar de coisas básicas, para mais gente.”
(Jornalista)

Brasil além de SP, Amazônias, Demarcação Já! 

Várias pessoas destacaram a importância de expandir a elaboração de campanhas e projetos de comunicação para além do eixo Rio-São Paulo, pensando esses temas para as populações na “região amazônica”, “nas cidades amazônicas”, “nas áreas de fronteira”, no “interior”, em “outras regiões do país”. 

No artigo “Por que as marcas ainda têm medo do Brasil?”, Cristiane Scaff, da Inesplorato, afirma: “na ânsia de falar com todos os brasileiros, é muito comum que comunicações sejam elaboradas a partir do que chamamos de ‘paulistite’, a visão míope que limita o Brasil pelo viés cosmopolita de São Paulo. (...) Esse descompasso com o contexto nacional não só provoca a desconexão dos brasileiros com muitas marcas, como também é um sintoma de um problema muito maior: o nosso alheamento em relação ao país. (...) Ao longo dos anos, sentimos que o olhar colonizado ainda prevalece nas empresas: o repertório publicitário ainda é muito alimentado pelos Estados Unidos e Europa; os códigos para a construção do que é aspiracional ainda transpiram estrangeirismos; até mesmo as ditas ‘tendências de comportamento’ usam e abusam do inglês. O país tem muito a oferecer, mas é preciso descolonizar o olhar”.

“A Amazônia é muito complexa. Nos últimos anos, começamos a adquirir um orgulho maior das nossas origens e tradições. Antes só achávamos bom o que vinha de fora e ainda tem muito disso. O audiovisual tem uma participação importante nisso. A comida do Pará, por exemplo, era vista pela elite paraense como algo exótico, para comer de vez em quando. Em dia de festa, se comia estrogonofe. Quem comia maniçoba ou tucupi, era o povo na rua.”
(Cineasta)
Legenda: Ilha Do Marajó Ft. Verequete e Waldo Squash
Crédito: Gaby Amarantos
“S​​ão campanhas que circulam nos mesmos lugares, grupos, pessoas. Não sai daquele clube. Uma das coisas que é urgente é que os movimentos, redes, observatórios, entrem em contato com outros movimentos. As campanhas precisam alcançar e pensar também nas áreas rurais, dialogar com as populações nas periferias do país. A sociedade civil no Brasil olha para associações de bairro, organizações locais nos territórios, com um certo desprezo, como se fossem distantes, empobrecidas. Mas, na real, essa galera que está na base, longe de Brasília, é a que está conectada às vidas das pessoas.”
(Jornalista/Ativista)

“Demarcação Já!” e “Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais”, a campanha contra a extinção da Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados) e contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que altera a Constituição para transferir o poder de demarcação de terras indígenas e quilombolas para o Congresso Nacional, também foram mencionadas, mas por um número menor de pessoas e apenas pelas engajadas.

“‘Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais’ é uma agenda direta, mas que não é simples de ser comunicada. Ela sempre está conectada com outras campanhas de certa forma. É uma campanha que permanece e é quase um grito de guerra.”
(Assessor de Comunicação)
“Uma campanha muito relevante aqui foi aquela ‘Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais’, que foi gerada em várias línguas, quando fizeram uma caravana por vários países da Europa. Naquele momento, os indígenas conversaram com congressistas desses países para sensibilizá-los em relação às compras de produtos vindos de regiões de conflito.”
(ONG internacional)
“Acho que aquela campanha da Apib ‘Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais’ e ‘Demarcação Já!’ foram muito marcantes. Aquela volta que os indígenas deram pela Europa promovendo essas campanhas, aquilo foi muito forte e gerou uma reação do lado de lá.”
(ONG nacional)
Crédito: Apib
Crédito: Apib
Crédito: Apib
“A campanha contra a PEC 215, que pode ser considerada super bem sucedida, abriu muito espaço para que a gente desse liga e discutisse mais a fundo o que está previsto na Constituição de 1988. Apesar de relativamente recente, era um outro momento político do país, não sei se conseguiríamos mais reproduzir uma campanha como aquela hoje."
(Doador nacional)
“A campanha contra a Renca foi forte, mas uma campanha como aquela não funcionaria hoje. O Bolsonaro é impermeável à pressão interna. Na verdade, ele usa a oposição como combustível. Internamente, ele só se incomoda se a base dele protestar."
(Assessor de Comunicação)
Legenda: Líder indígena Piracumã Yawalapiti em discurso no Senado contra a PEC 215.
Crédito: Senado Federal
“‘Demarcação Já!’ eu acho que ela é uma campanha muito importante. Pegou muito. Essa associação de uma luta mais geral pela diversidade cultural, pelo respeito à diferença, acho que o movimento indígena consegue também, contemporaneamente, associar isso de forma muito competente com a questão territorial, do direito territorial das demarcações.”
(Cineasta)
“A imagem mais forte para mim é aquele vídeo do ‘Demarcação Já!’, com protagonistas tanto do mundo indígena, quanto artístico. Não sei o quanto penetrou na sociedade, mas essa campanha me tocou muito. Ela captura um espírito de simpatia pela causa indígena, especificamente pelas terras indígenas, como eu ainda não tinha visto no país."
(Jornalista)

Essas campanhas foram destacadas por terem sido lideradas pelo movimento indígena, por tocarem em temas ainda muito complexos, difíceis e distantes da sociedade brasileira, ou pelo fortalecimento das organizações e das alianças estabelecidas, pelo engajamento de artistas e por vitórias, ainda que temporárias.

Crédito: Greenpeace

Covid-19, muitas (ou nenhuma) campanhas, pouca retenção

Menos citadas e mais específicas, as campanhas de arrecadação de recursos durante a pandemia e de vacinação contra Covid-19 foram muito positivamente lembradas, especialmente por indígenas.

“A comunicação fez toda a diferença e salvou vidas. A comunicação envolveu pessoas e entidades parceiras para pensarmos em ações, vaquinhas, em prol dessas vidas. Nós vimos como a comunicação forte, bem feita, envolve as pessoas, que colaboram por meio do financiamento coletivo. Pudemos viabilizar muitas coisas: cestas básicas, higiene, máscaras. Traçamos estratégias e mapeamos as comunidades mais vulneráveis. Um processo desafiador, mas ao mesmo tempo prazeroso, porque surte efeitos.”
(Comunicadora indígena)
“Tiveram muitas vaquinhas na pandemia de grupos indígenas que não dialogavam muito com a sociedade e na pandemia passaram a dialogar mais. A campanha da emergência indígena foi forte.”
(Doador nacional)
“‘Emergência Maracá’ não foi exatamente uma campanha, foi um plano de enfrentamento à Covid-19. Para dar visibilidade ao plano, fizemos a live Maracá. Como ficou muito boa, transformamos a ideia em uma websérie. Com a Maracá, nós avançamos muito na arrecadação de recursos.”
(Liderança indígena)

A websérie “Maracá – Emergência Indígena” foi dirigida por Bia Lessa, pela coordenadora da Apib Sônia Guajajara, pela liderança Célia Xakriabá, pela cantora e compositora Maria Gadú, pela Marielle Ramires, uma das coordenadoras da Mídia Ninja, pela artista plástica Laura Lima, pelo designer Pedro Inoue e pela coordenadora do 342 Amazônia Mari Stockler. Contou com enorme adesão da classe artística e de personalidades, como Ai WeiWei, Dráuzio Varella, Criolo, Milton Nascimento, Thomas Lovejoy (​​falecido em 2021), Chico Buarque, Alec Baldwin, Maria Bethânia, Sebastião Salgado, Zé Celso, Gaby Amarantos e muitos outros.

Crédito: Apib
Crédito: Apib
Crédito: Apib
Crédito: Apib
Crédito: Apib
Crédito: Apib

Houve entrevistados que questionaram se já tivemos realmente uma campanha em defesa dos direitos dos povos indígenas no país e se o que tem sido feito pode ser chamado de campanha.

“Quando escuto a palavra campanhas, penso naquilo que mobiliza o público, a sociedade, a opinião pública, uma iniciativa com público-alvo, um conjunto de ações, atividades desencadeadas e com objetivos, demandas específicas. Outra coisa são as mobilizações, agitações que se dão via redes sociais, ou as ações de incidência política, que vejo mais como instrumentos da campanha do que necessariamente como campanha. Acho que esse tema no Brasil demandaria uma campanha muito bem estruturada, com o fôlego, a duração e a persistência que tivemos contra a fome, por exemplo.”
(Doador nacional)
“Acho que precisamos e ainda não tivemos uma campanha grande, que inclua peças em canais de TV aberta, que convide a sociedade a participar, e que a gente consiga sustentar por um longo tempo.”
(Antropólogo)
“Só lembro do ‘agro é pop’, que me incomoda, mas é o que eu lembro.”
(Cineasta)
subcapítulo

“O agro é tech, agro é pop, agro é tudo

“Agro: A indústria-riqueza do Brasil” foi mencionada por entrevistados de públicos engajados/interessados para pontuar a ausência de uma campanha que possa se igualar a essa em termos de meios, estrutura, grandiosidade, orçamento e duração, e para discorrer sobre as dificuldades – impossibilidade, para alguns – de compor imaginários distintos aos da exaltação ao agronegócio no Brasil.

“Acho muito difícil, mas precisamos disputar, desconstruir essa coisa do agro é pop, que o agro alimenta. Temos que mostrar o que o agronegócio realmente é em termos de degradação, em termos de concentração de renda, e que os indígenas, comunidades tradicionais, pequenos produtores aproveitam muito melhor a terra.”
(Cientista)
“O agro é pop, o agro é bom, ainda está muito ligado à questão da empregabilidade, da viabilidade econômica no país, mesmo entre pessoas interessadas na causa indígena.”
(Jornalista)
“Tem gente trabalhando contra o tempo inteiro. O agro é pop, entendeu? E é mentiroso. Eles botam uma propaganda, no meio do Jornal Nacional: ‘O feijão que você come vem do agro’. Vem nada! Vem da agricultura familiar. E não falam sobre a monocultura, sobre o desmatamento, sobre a soja produzida para vaca comer lá fora. É um absurdo.”
(Antropóloga)
“A afirmação ‘O agro é pop’ pelas redes de televisão é violenta e não deveria existir, uma vez que TVs são concessões públicas. Isso que é praticado no Brasil é uma política de extermínio.”
(Jornalista)

A campanha começou a ser veiculada em 2016 para “conectar o consumidor com o produtor rural e ao mesmo tempo desmistificar a produção agrícola aos olhos da sociedade urbana”.

“Sempre abordamos o agronegócio como conteúdo, basicamente mostrando para a população assuntos importantes ligados ao mercado. Então decidimos extrapolar as barreiras do jornalismo e do entretenimento, desenvolvendo um projeto de comunicação para os intervalos da emissora. E tínhamos três objetivos básicos: desmistificar o tema, tirando da cabeça das pessoas a imagem de que o agronegócio era pequeno, relacionado ao homem simples, sertanejo; valorizar o setor, que representa 1/3 do PIB brasileiro; e, por último, aproximar o agronegócio das pessoas, mostrando que existe um mundo chamado agronegócio e que ele está presente no nosso dia a dia”, explicou José Luiz Petroski, gerente de planejamento de marketing da Rede Globo, durante apresentação sobre a campanha em 2020.

A campanha é recorrentemente tema de memes, charges, críticas nas redes sociais.

Em 2018, foi também tema de uma exposição do artista indígena Denilson Baniwa “Terra Brasilis: o Agro não é pop!”. Em entrevista sobre a exposição, Denilson afirmou que “a política do agronegócio com o apoio da grande mídia e de grupos conservadores tem difundido a ideologia do desenvolvimento econômico ao mesmo tempo que fomenta um discurso de ódio e preconceito contra as populações indígenas como justificativa ao impeditivo do progresso do país”.

Crédito: Reprodução Twitter

Em 2021, um estudo da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra),“O Agro não é tech, o Agro não é pop e muito menos tudo” se contrapõe à narrativa da campanha. 

A partir da análise de dados da balança comercial, do PIB e do IBGE, a pesquisa aponta que o agro pouco contribui com o produto interno bruto (PIB), traz altos custos ao Estado, gera poucos empregos e é o grande responsável por devastações ambientais: “o agro não é e não produz ‘a riqueza do Brasil’ (segundo os dados do PIB-IBGE), mas recebe a maior parte de recursos públicos em créditos, incentivos, isenções tributárias, perdões de dívidas etc. O grande lucro fica com empresas de capital estrangeiro como Bunge e Cargill. Não é grande gerador de trabalho e renda e depende de pacotes tecnológicos importados de fora. Do ponto de vista ambiental, é o principal responsável pela devastação florestal e envenenamento dos solos, águas, homens, mulheres e crianças. O agro não alimenta o mundo porque não alimenta nem os brasileiros, como pode ser visto pela ótica da inflação dos preços alimentares e aumento da fome no Brasil. Onde estão os lucros do agro? Qual a força da evasão de divisas? Qual é a fatia do agro na formação da dívida pública? A soja é mesmo brasileira, já que as multinacionais estrangeiras são as grandes comercializadoras? É preciso desmontar os mitos que vendem o agro como motor do país e como fonte de alimento para o mundo. A captura ideológica permeia todas as esferas da indústria cultural e é preciso urgentemente fazer frente a isso”.

A campanha está na terceira temporada e, de acordo com reportagem do UOL, conta atualmente com o patrocínio do banco Bradesco e da montadora Ford. 

O alcance dessas campanhas para além das bolhas foi uma preocupação compartilhada recorrentemente.

“Nós estamos vivendo em uma sociedade em que não há um entrechoque que altere a visão de mundo do antagonista, as pessoas de uma certa tendência tendem a falar apenas consigo mesmas.”
(Jornalista)
“O problema dessas campanhas é que elas são feitas, vistas e compartilhadas somente dentro da nossa bolha. São peças de comunicação que falam com a nossa bolha. Elas fortalecem posições existentes, mas não mudam a posição ou formam a opinião do restante da população. Furar a bolha requer falar de outro jeito, jeitos que a gente não gosta, jeitos que a gente não sabe.”
(Ambientalista)

Outros acreditam que a visibilidade internacional dessa agenda precisa ser melhor “oportunizada”, aproveitada, no Brasil.

“Tem que ter lugar de enfrentamento, mas também tem que falar daquilo que chama a atenção do público. A classe média brasileira olha muito para os Estados Unidos. O Joe Biden está falando da Amazônia, está ouvindo os povos indígenas. A Europa está falando sobre interromper a importação de produtos agrícolas com indicadores socioambientais. Por que a gente não pega esse gancho, não faz melhor uso disso?”
(Cineasta)
Crédito: Observatório do Clima
subcapítulo

Bolsonaro ou Amazônia?

“Defund Bolsonaro” não foi uma das campanhas mais citadas, mas foi a que gerou as reações mais exaltadas entre alguns dos entrevistados. 

O site da campanha não está mais no ar. De acordo com uma reportagem do Valor Econômico, a campanha buscava “alertar e conscientizar empresas, investidores, consumidores e líderes globais para que se distanciem do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de forma a evitar a destruição da Amazônia”.

A iniciativa reuniu as principais entidades de defesa do meio ambiente no país, como Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Mídia Índia, 342 Amazônia e Observatório do Clima. Seu lançamento coincidiu com um contexto de intensificação das queimadas na Amazônia Legal e no Pantanal, agravadas pela suspensão, pelo Ministério do Meio Ambiente, das operações de combate ao desmatamento nas regiões – a medida incluiu um bloqueio de R$ 60 milhões para fiscalização.

Lançada em setembro de 2020, a principal peça da campanha, um filme com pouco mais de 1 minuto, inovou a narrativa imagética sobre a Amazônia ao apresentar cidades e produtos internacionais em chamas para relacionar corporações e marcas globais com as queimadas na floresta e com o governo Bolsonaro. O filme terminava com as questões: “pergunte a si mesmo, pergunte às marcas, ao seu governo, de que lado estão, Bolsonaro ou Amazônia?”

A campanha viralizou nas redes sociais, recebeu atenção da imprensa nacional, especialmente depois da adesão do ator e filantropo Leonardo DiCaprio, e gerou críticas de integrantes do governo. 

Por causa da campanha, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, acusou a líder indígena Sônia Guajajara e a Apib de  “crime de lesa-pátria”. A Apib pediu a abertura de um processo criminal contra o general-ministro do GSI, Augusto Heleno, por difamação – mais em Redes Sociais.

Crédito: Apib

As preocupações com as reações contrárias ou o impacto negativo da campanha foram destacadas por alguns entrevistados. 

“‘Defund Bolsonaro’ acho que o tiro saiu pela culatra, nesse governo nacionalista ficou confuso para as pessoas entender se era ‘Defund Bolsonaro’ ou ‘Defund Brasil’.”
(Doadora nacional)
“‘Defund Bolsonaro’ foi vista como ‘Defund Brasil'. Os bolsominions usaram essa campanha para dizer que os indígenas estão atuando contra o Brasil no momento em que o país atravessa uma crise econômica.”
(Doadora internacional)
“Acho que a campanha ‘Defund Bolsonaro’ não ajudou os indígenas, não ajudou o movimento climático, não ajudou ninguém. E piorou a imagem da gente no Brasil.”
(ONG Nacional)
“Uma das campanhas que eu tenho ressalvas,‘Defund Bolsonaro’, foi um sucesso. Essa foi muito mais uma campanha de denúncia do que uma campanha de denúncia informada. Tem um monte de informação substancial na peça, mas elas não estão conectadas, não são muito bem apresentadas. A campanha também corre o risco de fechar mais o diálogo do que abrir, ter efeitos colaterais e atingir ainda mais os povos indígenas, numa situação em que as coisas já estão capengas demais para eles. Outro risco grande é que as instituições, para preservar as florestas, tirem investimentos da Amazônia.”
(Cientista)

Representantes de organizações internacionais foram mais positivos, ainda que com questões mais relacionadas à perenidade e à dificuldade de compreender as demandas da campanha.

“O fato do governo ter reagido foi interessante, porque mostra que essa é uma questão muito sensível e que a campanha incomodou. Também acho importante provocar investidores estrangeiros ou o capital estrangeiro sobre ter se tornado insustentável continuar com seus negócios como de costume. Mas como manter a pressão além do filme?”
(ONG internacional)
“A campanha tem uma produção incrível, é impactante, mas é tão ampla que é difícil compreender o que exatamente está sendo pedido às pessoas.”
(ONG internacional)

Já alguns comunicadores e jornalistas brasileiros questionaram a falta de assinatura, ou a assinatura da campanha.

“Teve uma campanha muito bem-feita, com muita visibilidade, mas que tem uma questão que eu preciso averiguar melhor, mas que me irritou muito. Parece que os autores se esconderam e deixaram os índios assinando a peça. Eu achei isso medonho. E essa mensagem catastrófica, horrenda e radical, acho péssima. Acho que você afasta uma parte do público que você deveria tentar atrair. Acho que a radicalização, neste momento, só afasta as pessoas.”
(Jornalista)
Crédito: Reprodução Instagram
“O vídeo é lindo, as peças são maravilhosas, é tudo sensacional, e repercutiu pra cacete. O slogan, a hashtag ‘defund’ ninguém entendeu, mas ok. Agora, unbranded depois de outubro de 2018 não pode acontecer mais. Esse foi o erro da campanha. Então, é ótimo, mas unbranded não dá. Nos dias atuais, as campanhas têm que ter cara.”
(Assessor de Comunicação)
“Acho que o ‘Defund Bolsonaro’ tem méritos, gosto da linguagem, o tom era duro, mas fiquei em dúvida se a Apib deveria ter sido colocada como a promotora da campanha. Houve um erro de estratégia aí. A gente está num momento de tanta tensão que a galera branca, aliada, tem que se ligar e não fazer nada que aumente a vulnerabilidade dos povos indígenas. Temos que ter protocolos de gestão de risco. Não é não fazer, é como, quando fazer.”
(Ativista)

A situação do governo de Jair Bolsonaro e o momento político do país são muito distintos da que vivíamos em setembro de 2020. Os índices de desmatamento e o desmonte da agenda socioambiental também são hoje muito piores e a Amazônia, no momento, tem menos atenção que em 2019.

“A agenda dos povos indígenas tem ressonância global. Aqui o setor mais preocupado tende a ser o setor privado, porque sabe que o que acontece no Brasil vai respingar nos seus negócios. Além disso, celebridades como Anitta e Gisele Bündchen, com apelo global, entram nesse debate com milhões de seguidores e colocam a discussão em evidência, fazendo contraponto em massa ao pensamento bolsonarista. A gente precisa traduzir essa agenda internacional no Brasil por meio desses públicos.”
(ONG nacional)

Alguns dos entrevistados dos públicos engajados/interessados não envolvidos com povos indígenas ou mais próximos apenas à agenda ambiental, tiveram dificuldade em citar campanhas específicas, em alguns casos porque nada chegou a eles, em outros porque muita coisa passou por eles sem que tenham tido condições de absorver os conteúdos, as propostas das campanhas adequadamente.

“Não tem aparecido nenhuma campanha para mim, são mais notícias sobre invasão de terras, morte por Covid dos indígenas.”
(Cientista social)
“Não tenho visto tanta coisa de campanha formal. Infelizmente, o problema só alcança escala quando uma personalidade de fora diz ‘Pray for the Amazon’, e depois todos se esquecem.”
(Cientista)
"São tantas campanhas, abaixo-assinados em prol disso ou daquilo. Eu leio, assino porque sou simpática à causa, porque envolve o trabalho de alguém que gosto, admiro, mas devo confessar que eu não estou conseguindo reter muita coisa.”
(Cineasta)
“Olha, eu não me lembro de nenhuma campanha que tenha ficado no meu imaginário, que tenha me marcado nesse sentido. Eu vi mais coisas chamando a atenção do que não devíamos fazer do que o contrário.”
(Doadora nacional)
“Foram tantas que eu realmente não conseguiria destacar uma agora. Esse campo passou a ter profissionalismo na área da comunicação por trás e uma sequência enorme de ações, que eu não conseguiria destacar uma em particular.”
(Jornalista)
“70, 80% da população vive com mil reais, dois mil reais. A gente não pode esperar que essas pessoas defendam a questão indígena. Quando a gente tá pensando em campanhas, a gente tem que pensar em outras maneiras de falar a respeito desse assunto para essa parcela da população.”
(Assessor de Comunicação)

Mais do que campanhas específicas, a presença expressiva de organizações indígenas nas redes sociais, a crescente capacitação de comunicadores indígenas e de influenciadores indígenas nas redes sociais foram apresentadas como as grandes novidades da última década por diversos entrevistados de públicos engajados/interessados – mais em Redes Sociais.

Crédito: Gilberto Gil

MAIS VOZES FEMININAS, MAIS DADOS, MAIS SABERES INDÍGENAS

Diversas peças de campanhas e de comunicação foram testadas entre os públicos formadores de opinião não engajados e a população geral.

As narrativas e o protagonismo dos próprios indígenas, especialmente das mulheres, foram bastante valorizados, assim como os cenários reais, que aumentam a credibilidade. No caso dos formadores de opinião, houve interesse também por vozes com perspectivas complementares aos dos povos indígenas, como as de cientistas e de especialistas. Entre o público geral, foram apreciadas as composições visuais bem trabalhadas, acompanhando as narrativas mais emotivas e mostrando a natureza e as tradições indígenas. 

A apresentação da diversidade de culturas e saberes indígenas despertaram respeito e interesse. Também foram elogiadas as campanhas que explicam a relação dos povos indígenas com a biodiversidade e como isso é compreendido pelos não indígenas e contribui para mitigar a crise climática.

As peças que desmistificam estereótipos e apresentam os povos indígenas em cenários e comportamentos atuais foram muito bem aceitas e consideradas esclarecedoras, elucidativas, ainda que o uso de vestuário com elementos da cultura pop tenha causado estranhamento entre entrevistados da população geral.

Crédito: Reprodução Instagram

Dados e evidências foram considerados essenciais para aumentar a credibilidade, informações além dos filmes, e foi sugerido que as assinaturas das peças incluam QR Codes ou o www para quem quiser saber mais.

O uso do humor foi bem-vindo, ainda mais pelo público jovem, e uma narrativa considerada autêntica, original. Nesse caso, há necessidade da mensagem final ser bem amarrada, para não ficar dependendo da capacidade de interpretação do espectador. O sarcasmo tende a ser rejeitado e questionado, e considerado ofensivo.  

As propostas que evocavam a ideia de “nós contra eles”, “vilões e heróis” geraram desconforto e foram lidas como posicionamentos ideológicos, que não favorecem a aproximação e interesse no debate. Elas despertaram sentimentos de culpa, tristeza e impotência. O uso do termo genocida provocou ruído e incomodou uma parcela dos entrevistados, e a campanha foi definida como “de esquerda”. 

Generalizações que colocam “todos os indígenas na mesma caixinha” foram criticadas, e uma das peças foi descrita como um trabalho que fala apenas a pessoas já simpáticas à causa.

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